31 janeiro 2009

Série O BONEQUINHO VIU nº2

Não me lembro se já disse aki, mas no geral meus gostos são giga temerários... pra música, pra filmes, pra livros, pra cores, pra lugares e, como é de esperar, pra homens.

Com os de carne e osso, tocáveis, possíveis, beijáveis, a tendência é me enternecer pelas suas fraquezas ou excentricidades. Quanto mais esquisito, melhor. Se for esquisito e gostar de ler, mais 1 ponto; se for esquisito e tocar violão, mais 5 pontos; se for esquisito e o cheiro da sua pele for melhor do que o do perfume, mais 10 pontos.

Já com aqueles que são só pra olhar mesmo, pra prender minha atenção (pra desperta-la basta ser peludo!) tem que ter algum talento: escrever, pensar, cantar, compor, interpretar enfim... e como sabemos que muitíssimas vezes a competência é inversamente proporcional à beleza, eis os meus feinhos do coração:

Meu primeiríssimo é Matheus Nachtergaele, imortalizado por João Grilo d´O Auto da Compadecida. Pelo menos aos meus olhos de tiete todas as suas personagens são irretocáveis (fora pai Helinho de uma novela ai que não sei o nome): O Dunga de Amarelo Manga é tão bom quanto a Lady Di de Rodrigo Santoro em Carandiru. Só que o gay de Matheus tem mais mérito pq salvou o filme o desperdício total. Se vcs não acham possível gostar de um filme que rejuvenesce Mazaropi, vejam Tapete Vermelho e pasmem, como eu.

Meu 2º lugar é Caio Blat, que, do auge da sua magreza (bondade minha ou ele nem está tão magro mais?) dá show de interpretação independente da profundidade do texto. Pra ilustrar, comparem É Proibido Proibir com Batismo de Sangue.

Marco Ricca - fosse ele um "possível", eu ia propor casamento: além de (bom) ator, também é produtor, roteirista e diretor. Viram O Casamento de Romeu & Julieta? Apesar de Luana Piovani, foi bonitinho não foi? Vejam Canta Maria e, além de um conterrânea minha (Vanessa Giácomo é da terrinha!!), encontrem o ranzinza mais adorável do cinema brasileiro.

Chico Diaz explicita meu fraco por coroas... rs Estou até agora fascinada com o cangaceiro de Corisco & Dadá que ele compos divinamente misturando a rispidez dos povos castigado pela seca, pobreza e injustiças várias com os lapsos de delicadeza de que são, surpreendentemente, capazes.



Bonequinho sempre antenado!

22 janeiro 2009

IMPUBLICO

Sabe qual é o meu sonho secreto? Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia (...) E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir nesse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude.

Fernanda Young em “Aritmética”
Se tivesse me sobrado alguma, eu teria vergonha de dizer que isso ai é mais uma das minhas verdades-de-ponta-da-língua, daquelas que a gente não verbaliza em nome do amor próprio. Poizé, não diria pq não faz parte do meu show, mas alguns dos parcos seres que pisaram minhas areias me despertaram tais níveis de estupor... estou até agora chocada, mas é me imperativo confessar: eu preferia ser apenas a Beatriz de Chico, altiva, envolta nos véus de seu mistério. Alguma tristeza, que senão faltaria beleza, mas irrepreensível em dignidade. Maior que as suas dores e por isso mesmo serena, cretinamente serena.

Dai eu leio uma coisa dessas numa tarde ociosa e me descubro outra: Estúpida. Latina. Bethânia... de uma previsibilidade patética, sendo eu tão mulher quanto as outras, sejam as de Chico ou qualquer Zé. E nem posso me escusar por TPM!

Nem sei se lamento ninguém alcançar o que quero dizer, mas me é absolutamente familiar isso de querer mais um pouquinho! Eu sempre quero, e quero geralmente o que não se pode dar mesmo, pq nem sei direito o que é. O que esse livro me evidenciou foi a diferença entre querer 'uma' pessoa e querer 'a' pessoa, entre meus caprichos e minhas imprescindibilidades.

Esse recorte é um escândalo de precisão, de uma franqueza indecente pros meus eufemismos. Mais uma vez descoberta - e a breguice devidamente desculpada - sigo confessando: o que mais agride nem é constatar que nunca souberam aproveitar minha sempre-bem-humorada-cia.; nem o ridículo de decair em chatice (pr' o que, aliás, um outro recorte dá uma excelente justificativa); nem admitir que não sou tão esperta quanto acredito ser; nem a derrota que é admitir que meu cortejo de virtudes fez mais mal do que bem... o PHoda da coisa é descobrir que algo em mim a-i-n-d-a espera que esses sujeitos que nunca consegui ter a vera, por incompetência ou fatalidade mesmo, me surpreendam com algo que sinalize que lamentam tanto quanto eu... e enxergar - agora com meus olhos de Alcione - que em culpa ou dolo, tenho participação ativa na morte matada dos meus fiascos emocionais.

blergh. Estamos em que século, hein? Incrível como ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais, apesar de termos feito tudo o que fizemos...

N.A.: pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário merrrrrmo: esse texto é de jun/08, que achei impublicável na época. Dai passou um tp, minha indignação baixou um cadim e deixei Jana publicar... e agora cá estou eu, absolutamente sem vergonha, assumindo esse aspecto obscuro e muito bem camuflado de minha pessoa. hihihi

13 janeiro 2009

O ÔNUS DE SER HONESTA

(A idéia nasceu num dia de absoluto ócio naquele escritório (sexta, 26/12!). De Poa, Jana igualmente sem assunto. E nós duas trocando e-mails freneticamente. A pauta? Nossa pior qualidade e melhor defeito: a sinceridade.Todas as lamúrias destiladas com o humor negro que nos sobra, cada uma escreveu o seu próprio texto embora não tenha lá graaaandes diferenças. Mas quis tb eu dar a minha reclamadinha...)

O que acontece é que de maneira geral (de maneira geral é mto bom!) sou bem sincera. E nunca ganhei nem um docinho por conta disso, pelo menos afetivamente, digamos assim: perdi a conta das coleguinhas que sucumbiram ao peso da minha franqueza; assustei alguns mocinhos ao sinalizar minhas boas intenções; irritei ou decepcionei outros tantos com a minha invencível inépcia para os tais "joguinhos de sedução"(joguinhos de sedução não é nada bom!); afastei pessoas (fracas?) e conquistei várias almas afins por seguir acreditando que quem fala a verdade não merece castigo, apesar de.

Tudo pq além de defeito de fábrica (sem recall, lamento informar!) eu tenho é muita pressa: quero viver tudo que há pra viver, sem enrolação, queimando todas as etapas desnecessárias e enguiços enervantes (próprios da condição humana?) Que sentido há, jesuiscristo, em ir embora querendo ficar? Em dizer não qdo é pra dizer pelo menos talvez? Não entendo mesmo isso da pessoa não saber o que fazer com as coisas inesperadas que ouve! Sempre há pelo menos duas hipóteses: fazer nada ou fazer alguma coisa, qualquer coisa. Dai a pessoa não faz nada, eu entendo isso como uma negativa so sweet (pq mentiras sinceras me intereéééssaaaaam!) e lá se vai uma coisa bacana apenasmente pq não é muito comum ser tão assertiva. aff. E se for assim ainda não tá tão mau, pq pode ser que o 'fazer alguma coisa' da pessoa seja mais traumático do que o 'não fazer nada'.

Mas qdo o 'fazer alguma coisa' é traumático pelo menos a gente tem a que reagir. Revidando um beliscão com um tiro ou sendo a mãe do bom senso & amor próprio, alguém toma alguma atitude. Particularmente, acho bem pior o tal do 'não fazer nada': neste caso a coisa bacana nem vai para o Céu Dos Interesses Unilaterais, nem pro Inferno Do Bem Feito, Eu Te Avisei...vai pro Limbo Das Idiotices Que Não Cometerei Nunca Mais, seguida de um cortejo de promessas a (não) se cumprir e toda a culpa decorrente.

E o que se faz no limbo? Atenta-se o juízo dos viventes, oras!!! É de lá que vem aqueles pensamentos paranóides, aquela vergonha duzinfernu, aquela indignação que ninguém consegue mitigar... e gente quase reza por um Alzheimer precoce pra não precisar encarar a mais vaga lembrança do fiasco.

Percebem? A gente acaba se auto flagelando por agir certo!!! A gente faz o que é pra fazer, se responsabiliza pelo que quer ( e invariavelmente é injustiçada por isso: ou pagamos de carentes ou de fáceis), se vira do avesso pra encontrar as palavras certas e o ser se assusta!? Ah, te fudere!!! O que devia assustar é a tibieza em que as pessoas andam vivendo...

10 janeiro 2009

TERESA, EL CUERPO DE CRISTO

Castela, meados do século 16. Nossa igreja é atacada por fora tornando-se sombria por dentro(...)Nas praças queimam-se corpos para salvar almas. Todos os corações estão dominados pelo medo.

Todos, menos um:
[Close em Paz Vega]

Sou vossa, pois me criastes
vossa, pois me redimistes
vossa, pois sofrestes por mim
vossa, pois me chamastes
vossa, pois me conservastes
vossa, pois não me perdi
[Plano se expandindo, portas se abrindo ao avanço de seus passos firmes. Semblante sereníssimo]


O que mandais saber de mim?

Per.fei.to! O espanhol dá o tom exato da seriedade dessa entrega. Com uma protagonista desse quilate não entendo mesmo pq julgaram necessário torcer tanto assim a verdade dos fatos, mas enfim...

Teresa de Cepeda y Ahumada, canonizada em 1622, a 1ª mulher a receber o título de Doutora da Igreja, cuja obra literária talvez seja a mais importante da Espanha Quinhentista... foi perseguida pela Inquisição por conta de êxtases involuntários (a mulher levitava a vários cm´s do chão, assim, do nada!) e visões de Cristo Crucificado. Teresa morreu em 1582, aos 67 anos. Após a morte, seu corpo exalava um perfume deliciosíssimo e até o presente dia se conserva intacto. Seu coração, apresentando larga e profunda ferida, encontra-se exposto num relicário na Igreja das Carmelitas em Alba, Espanha.


O filme mostra Teresa se enterrando num convento pq foi "desonrada", o que particularmente acho até possível, nos seus manuscritos nada é dito com clareza mas dá pra depreender alguma coisa nesse sentido. PONTO. A esculhambação está em dar um nuance sexual aos êxtases. Desnecessário, leviano e absolutamente improvável, que em tempos de caça às bruxas nenhum ser humano razoavelmente lúcido (louco
tinha aos montes!) incorreria num sacrilégio desse tamanho. Aliás, quem escolhe isso? Quem iria correr o risco de virar churrasquinho por sustentar uma mentira? Felizmente as cenas que insinuam essa sandice são poucas, curtas e nada explícitas.

Como fã de carteirinha dessa mulher de chumbo, que deu o sangue na reforma da Ordem Carmelita, eu me sinto na obrigação de ponderar: se naquela época nebulosa da Igreja mulher não sentia prazer nem com o próprio marido, avalie o que seria na cabeça delas fornicar com o Senhor!!!! Essa idéia imbecil só podia mesmo nascer de uma mente herética e insegura quanto a sua competência. Quem precisa polemizar para ganhar atenção sobre o seu trabalho está atestando a falta de talento pra atrair expectadores pela obra em si.

Fora esse vacilo, o filme é bom: a fotografia é belíssima, roteiro consistente (
dá pra reconhecer nas falas trechos dos manuscritos), o temperamento da personagem bem assimilado pela atriz, sem grandes lapsos na cronologia... bonequinho gostou!

03 janeiro 2009

RETROVISOR


Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário: letras, lados, lestes...
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja é mãe de filhos que não conhece, vendeu-os por açúcar
(...)
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso, acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado. É de vez em quando do meu lado. Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou, o que partiu. O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas,
Mostra as ruas que escolhi, calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente coisas ficam para trás

A gente só nunca sabe que coisas são essas
...
* Fernando Anitelli

Manda a verdade que se diga que as vezes a gente sabe, sim, que coisas são essas. Sabe e não se conforma. Não se conforma e empaca. Pelo menos por aki as coisas funcionam assim hihihi

Bem, embora a-i-n-d-a empacada em lembranças mal resolvidas, algumas outras que passaram e ninguém viu me arrancam sorrisinhos bestas... e isso de enxergar tudo ao contrário é até que interessante, já que só o tempo mesmo pra redimensionar os fiascos: na hora a gente quer morrer; depois emerge, cansada e sem ar; passa um pouco, olha pra trás e parece lobotomizada: onde estava todo aquele sofrimento? hein?

E é isso, pessoas: SE VOU pra frente, COISAS FICAM pra trás. Simples como a vida deve ser.

Que em 2009 essa verdade seja totalmente assimilada pelas nossas cabecinhas de vento!