26 dezembro 2010

INDIGNE-VOUS!

Parece que um livrinho, "quase um panfleto", fez sucesso na França neste Natal. Em 30 páginas um velhinho dizendo às pessoas: Fiquem indignados! Stéphane Hessel incita ao não conformismo político. A matéria que li a respeito segue a mesma linha e até faz uma lista de 10 coisas pra gente se indignar no Brasil.

Mas eu trouxe a coisa pra realidade do meu infinito particular: fiquei pensando em tudo que me tira do sério, lembrei de pessoas e situações que já tiveram esse poder, mas que hoje em dia descansam em paz no meu jardim das indiferenças... me achava a bala que matou Kennedy meio que vitoriosa por enterra-los todos lá - e nem lhes levar flores no dia de finados!!! - até bater os olhos nisso:

A indiferença nos faz menos humanos. A resignação pode nos tornar cúmplices.
Albert Camus

Calmus também estava falando de política, mas sua frase me agrediu assim mesmo. rs

Perdi horas, tristíssima, imaginando quão menos gente me tornei ao aprender a arte de me desligar do que me faz mal. Por outro lado - me consolei - há uma infidade de coisas que quase me cegam o juízo de tanto que irritam. Na verdade antes das lentes de Calmus, antes de considerar que a indignação nos esquenta o sangue, nos mantem vivos, eu só pensava que era um sentimento menor e inútil, já que de maneira geral a gente se gasta sozinho, tomando veneno e esperando que o outro morra. Não é verdade que enquanto a gente definha em ódios, invejinhas e coitadismos os causadores ignoram solenemente nosso calvário?

Mas é verdade também que engolir sapos faz mal pro corpo e pra alma... (Já rascunhei uma tese sobre isso. rs) Há de se encontrar um meio termo razoável.

Portanto, parcos e queridos leitores desse rascunho, o que eu desejo pra 2011 e pro resto de nossas vidas é que a gente nunca perca a capacidade de se indignar:

com gente que destrata garçons, frentistas, caixas de supermercado e etc;
que joga lixo pela janela do carro;
que acha que tem que levar vantagem em tudo;
que não tem controle sobre os próprios filhos;
que reclama do mundo mas não move um músculo pra torna-lo mais habitável;
que não tem paciência com velhos;
que não luta pelo que quer;
que abusa da boa vontade alheia;
que não paga suas dívidas;
que vampiriza os pais, amigos e subordinados;
e claro,
com gente que machuca os outros, gente que não sabe amar

De minha parte, seguirei eternamente indignada com que
dá abraço curto pra não sufocar ;
que não me trata com o respeito que mereço e me nega o pouco que consigo admitir que preciso;
que passa meses sem me ver e quando me encontra não tem nada a dizer;
que não dá feedback;
que "filtra moscas mas engole camelos";
que se encolhe e espera as nabas se resolverem sozinhas;
que faz chantagem emocional;
que diz que não sabe por preguiça de responder ...


Boas entradas pra todos, viu? hihihi

11 dezembro 2010

CLARA DEL VALLE ARMADINEJAD PIMENTEL

Ninguém mais aguenta falar de Morro do Alemão, né? Eu sou assim mesmo, sempre an retard...

Mais uma vez o inferno inteiro vai babar de orgulho de mim, mas eu acho que naquele dia a polícia devia ter atirado na mulambada! Pronto, falei.

Tá armado pq? Tá correndo pq? Fogo neles! DIREITOS HUMANOS SÃO OS NOSSOS!

Eu reconheço que os bandidinhos que ainda estavam lá na hora "da invasão" não são os piores, mas vem cá, ia dar pra prender todo mundo? Se desse, com o sistema penitenciário vigente, é possível recuperar alguém? Reconheço também que enquanto a polícia continuar facilitando a vida de traficantes e fingindo que milicianos não existem, esse povo não tem muita escolha...

Mas eu queria falar mesmo é dessa coisa de "tropa de elite em 3D": onde estavam esses blindados que não entraram em cena antes? (Sabemos que num país que viveu anos de chumbo pega muito mal sugerir que militares policiem civis, mas enfim, a pergunta continua não querendo calar...) Pq da noite para o dia a polícia do RJ ficou bem aparelhada e competente? Pq o disk denúncia bombou daquele jeito? Se todos - polícias, governo, comunidade, imprensa - sempre estiveram no mesmo lugar, pq só agora resolveram agir em conjunto?

Nem estou aqui desmerecendo o trabalho deles, não. Apesar da pilhagem, abusos e propinas, a polícia agiu e isso já é alguma coisa. Mas gentem, quantos morros existem no RJ? E quando passar a copa e as olimpíadas, vai voltar ao mesmo caos de sempre? Aliás, de sempre não, com mais um rombo orçamentário para cobrir.


Não precisa ser capitão do BOPE pra saber que bandido só é muito macho e perigoso quando está dando ordens pelo celular. Desarmado é como qualquer mortal: vai correr enquanto tiver pernas! Parece meio óbvio que enquanto for fácil conseguir armamento pesado, não vai ter UPP que dê conta. E enquanto o comércio de drogas for lucrativo, não há motivos pra essa gente querer outra vida.

Pacificação de favelas é um projeto de longuíssimo prazo e demanda várias frentes de atuação: educação, inclusão sócio-cultural, reestruturação familiar... não se resolve num só mandato. Talvez nem em 10.

28 novembro 2010

CANÇÃO DA DESPEDIDA

Vinícius de Moraes disse e Can repete com confiança: domingo é dia que não quer ver ninguém bem. 

De maneira geral eu até concordo com eles. Mas hoje - em descarada afronta ao postulado do poetinha - me aconteceu algo bem feliz: um lapso de lucidez, um passo a frente apesar dos meus tantos enguiços. Deixa eu contar:

Meus parcos e queridos leitores sabem que eu o-d-e-i-o coitadismo. E foi só por isso que tentei manter a dignidade e não contabilizei aqui todos os hectares de capim que comi por conta de cabeça de bacalhau. 

Eu saí da estrada há muito tempo atrás
Indo atrás de uma miragem que desapareceu
Só os loucos acreditam em fantasmas
Como amor eterno que alguém prometeu
Eu dei mais do que podia e isso não bastou
Mas um dia a gente acorda e a febre já passou... 


Pois passei esses meses todos praguejando baixo, humilhadinha e perplexa com tudo que (não!) aconteceu. Procurei não encher as pessoas com essa história, mas a verdade é que passei beeeem mais tempo do que o aceitável de luto. 

Dessa vez perdi o rumo e a medida
Fiquei tão fraco quanto alguém pode ficar
Nessa viagem quase cego eu te seguia
E fazia quase tudo pra agradar
Eu tentava acreditar que isso é que era amor
Eu estive tão doente e agora já passou... 


Verdade também que eu estava enlutada mas não estava dormindo de modo que à revelia de todos os prognósticos conheci um mocinho que ajudou bastante no processo de desapego hohoho Dai que mocinho novo + meu esforço pessoal + passar do tempo = serenidade!

Hoje me dei conta que cabeça de bacalhau descansa em paz,  no Céu dos Interesses Unilaterais e como eu não estou mais bancando a viúva inconsolável, nada mais prende essa alma à terra e ela pode finalmente encontrar a luz e parar de me assombrar. 

hoje estou de volta à vida e pra você essa é a canção da despedida!!! 

N.A.: Seria desonesto de minha parte omitir que o mocinho novo em questão está de malas prontas pro Inferno do Bem Feito, Eu Te Avisei! tsc Parece que ele não quer ser nada além de um coadjuvante. (e que eu não aprendi tudo que devia sobre "reincidências" tsc²)

11 novembro 2010

MEMORIA SENSORIAL

Eu viajo nas possibilidades do cérebro humano... uma perfeição inalcançável. De tudo que ele consegue fazer sem a gente entender perfeitamente como e pq, o mais legal pra mim é linkar os sentidos às coisas que nos acontecem.

O meu sentido preferido é o TATO. Toque é TUDO nesta vida... hum... Sou dessas que enxergam com as mãos, sabe como? Maaans quando o assunto é lembrança, é o meu OLFATO quem dá show: se eu sentir o cheiro, sou capaz de lembrar de vários detalhes. Voltar no tempo mesmo. Sensacional

Tem um creme de cabelo que eu usava quando ensino médio ainda era 2º grau. Tem mó tempão já, mas é só ve-lo na prateleira que eu abro o frasco pra sentir o cheiro de algas marinhas!(quem sabe qual o verdadeiro cheiro de algas marinhas???) Consigo até ver o uniforme, os cadernos sobre a cama, o estojinho retangular onde só cabiam 3 canetas... 

E os perfumes? Atualmente tenho 14 e praticamente todos eles me lembram alguma coisa. E exatamente por isso eu não consigo jogar o frasco fora! Quando passa da metade eu começo a - sovinamente - economizar... Tenho ainda um que ganhei no meu aniversario de 15 anos. Ele é a única lembrança forte que tenho do dia. 

Cheiro de couro lembra uma bota branca escalafobética q eu tive;

Cheiro de Farinha Lactea lembra a minha vó;

Cheiro de cloro lembra meus tempos de natação. brrrrr odeio água fria!

Cheiro de Caladryl lembra verão em Cabo Frio;

Cheiro de cuba-libre lembra um porre fe-lo-me-nal e me embrulha o estômago;

Cheiro de omelete beeem tostadinho lembra um cara que morou comigo na época da faculdade;

Cheiro de Vick lembra a Beatriz, o Dudu e nariz entupido de noite...

Estou republicando isso que escrevi em 2005 só pra contar uma coisa que me aconteceu hoje. Mas queria dizer antes que não tenho mais 14 frascos de perfumes, que já joguei fora esse que ganhei aos 15 anos mas ainda economizo quando um deles chega na metade.

Bem, bora lá: estava eu tentando dormir no trajeto pra o fábrica quando entra no onibus um ser h-i-p-e-r cheiroso. Não abri os olhos pra ver quem era pq eu me conheço, sei que ia começar a fantasiar coisas só por conta disso. Dai que me lembrei instantaneamente de um outro ser que não vejo há anos - que, aliás, mal falo hoje em dia - e que usava o mesmo perfume. 

Pois lembrei com riqueza de detalhes e passei o dia todo assombrada pelo cheiro de Litlle Ghost Ghost. tsc Oscilando entre a raiva de não poder fazer nada pra me livrar disso e a curiosidade por tudo que podia ter sido e não foi. 

COMO ASSIM, BIAL? Como assim um mísero perfume tem o poder de neutralizar tudo de tosco que aconteceu e me despertar as querências desse jeito?

N.A: vcs sabem que nome tem isso, né? Capetice, minha gente. Estou
caçando piolho em cobra, roubando de mim mesma, procurando sarna pra me coçar...

05 novembro 2010

Toda viagem é sem volta e leva sempre ao mesmo lugar: a nós mesmos. Ao final de cada uma, o melhor que podemos esperar é termos nos tornado mais o que somos. Ter alcançado porções mais longínquas de nossa própria geografia, mesmo que esta seja uma floresta densa e sombria. Ter sido ampliado pela experiência de se arriscar a olhar para dentro, escalando nossas próprias montanhas, mais altas que o Everest, e atravessando nossos rios internos a nado...

Eliane Brum

Voltei, pessoas! Desta vez estive pros lados de Alto Paraíso de Goiás e São Jorge.

Sem palavras pq ainda estou olhando muito pra dentro, sabem? rs

14 outubro 2010

O DONO DO MANUAL

Ivan Martins escreveu essa semana em sua coluna na Época sobre um tipo raro de homem - estimo que cada mulher conheça um só. Dois, se tiver sorte - aquele que nem é o mais legal, nem o mais bonito, muito menos o mais bonzinho, mas é de quem teremos saudades e-t-e-r-n-a-s: o dono do manual é o ser que aprendeu direitinho como a gente funciona e se esforça para que a gente SEMPRE funcione BEM hohoho

Dai que fiquei pensando, morta de tristeza, que nunca mais vou sequer falar com o dono do meu manual tsc Nem é uma tristeza doída - que pra nós não tinha outro fim possível, é só uma constatação. Uma constatação-resignada-que-me-leva-a-divagar: ♬ se tudo que eu preciso se parece, pq que não se junta tudo numa coisa só??? ♬

Não ia ser perfeito se o dono do manual morasse conosco? Se fosse ele também aquele que nos mata de rir? E que fosse também aquele que nos apoia em nossos projetos, entende nossos motivos e esculacha sempre que é preciso?

Por falta do que dizer, deixo procês o finalzinho do texto de Ivan:

Portanto, garota, quando você perceber que, na hora H o seu sujeito não sabe o que fazer com as mãos, tente acalmá-lo. Talvez você não tenha notado, mas ele está folheando dois manuais ao mesmo tempo, o seu e o dele. E os homens, como se sabe, não são muito bons quando se trata de fazer duas coisas ao mesmo tempo.

30 setembro 2010

SE O INESPERADO QUER CHEGAR, EU DEIXO!

Eu sempre uso os mesmos versos de Calcanhoto para entrelinhar as coisas que me acontecem assim, naturalmente, na simplicidade, sem aqueles enguiços irritantes que são uma constante na minha vida... 

Pois aconteceu de novo, minha gente. Parece outra "pequena epifania" mas ainda é cedo demais pra prever se vai acabar como a do Caio F... Aconteceu sem um sino pra tocar, sem que o chão tivesse estrelas, sem que houvesse nenhum drama!!!

Tô achando tudo tão leve... 

♬  Será que a gente é louca ou lúcida quando quer que tudo vire música? 

26 setembro 2010

VR MOTO FEST

Frejat esteve na terrinha outra vez. E outra vez eu fui ve-lo.

Era um encontro nacional de motociclistas (sim, aquele povo que se veste de couro e tem aquelas motos que parecem carros disfarçados!);

O tempo estava nada convidativo;

Talinha - que eu sempre carrego pra esses programas de índio - não quis ir;

Havia uma micro possibilidade de encontrar cabeça de bacalhau - a quem nunca mais vi e por força do treinamento de desapego, talvez fosse melhor continuar não vendo.

Mas eu fui assim mesmo, pq por Roberto Frejat ♬ eu aceitaria a vida como ela é ♬... rs

O show, claro, foi perfeito como sempre. Mas o que eu queria mesmo contar é que tive que rever meus (pré) conceitos: sai de casa convicta que seria mais uma festa estranha com gente esquisita e com a idéia de apenas de ir ver meu cinquentão preferido e depois pular na cama quentinha do albergue da Lou mas pouco tempo antes do show acabar, já prestes a virar abórora - a poucos minutos daquela hora em que começo a assumir minha velhice e perturbar as pessoas pra ir embora - eu percebo um mocinho vestido a carater para o evento me olhando desavergonhada e encantadoramente. Na verdade o mocinho não só olhava desavergonhadamente como também sorriu até não me ser possível ignorar.

Pois eu que admiro cada vez mais as pessoas que fazem alguma coisa com o que querem, lhe retribui com o meu mais desarmado sorriso e isso me deu a oportunidade de conhecer mais um desses tipos sui generis que vezenquando passam pela minha vida pra me lembrar que a gente sempre tem o que aprender. Dai que aprendi já nos primeiros minutos que chama-los de motoqueiros é ofensivo. Motoqueiro é motociclista meia roda, sim? Não cometam o mesmo erro! 

Para o meu espanto, aprendi também que esses motociclistas filiados e fiéis à alguma associação têm uma vida em pararelo! Ao contrário do que minha fantasia imaginava, eles não se vestem de couro e se enfeitam com correntes todos os dias! São bancários, professores, policiais, médicos, engenheiros etc que gostam dessas motos estravagantes e nas horas extra-comerciais se reunem pra gostarem juntos, digamos assim. Trazem suas mulheres e filhos, inclusive.

Minha fantasia - que também associava a eles comportamentos inapropriados, se esfumaçou por completo ao constatar que não vi NENHUMA briga, não vi nenhum casal perdendo a linha, nem gente mais alcoolizada que o razoável, nem a mais remota demonstração de falta de civilidade. Pelo contrário, o mocinho me explicou que de maneira geral eles são bem comprometidos com causas sociais e levam mó a sério as religiosas. 

(A essas alturas pra ser honesta devo acrescentar que pela qualidade do approach valeria a pena considerar o que mais ele poderia me ensinar hohoho)

O fim da noite foi decepcionante para o mocinho (se fosse diferente não seria eu, né?) mas como a vida tira com uma mão e dá com a outra, não é que ele estará a semana inteirinha na cidade para um treinamento da empresa onde trabalha?

Se for bacana, volto pra contar. Se o assunto morrer aqui, das duas uma: ou foi mais bacana que o publicável ou a paisana o mocinho não apresentou o mesmo desempenho.


17 setembro 2010

DOE PALAVRAS

No Dia Mundial de Luta Contra o Câncer, 08 de abril, o Instituto Mário Penna lançou a Campanha “Doe Palavras”. Criativa e inédita, a iniciativa quer incentivar a demonstração de carinho aos que sofrem com a doença. A ideia é gerar um banco de mensagens e pensamentos positivos que transmita aos pacientes esperança, conforto e acolhimento. As mensagens serão recebidas em uma plataforma web e transmitidas em tempo real nos televisores instalados nas dependências do Hospital Mário Penna.  



Ao invés de pedir doações em dinheiro, mantimentos etc., a Campanha apela para o sentimento solidário, se diferenciando por insistir apenas na doação de palavras e de atenção. Segundo o superintendente geral do Instituto Mário Penna, Cássio Eduardo Rosa Resende, palavras expressam sentimentos e por isso se tornam mais significativas do que o dinheiro. “Buscamos uma campanha que trouxesse aos pacientes coisas que o dinheiro não pode comprar, como motivação, carinho e solidariedade. Essas palavras ajudarão aos pacientes e familiares a enfrentar o tratamento com mais coragem”, destacou.  

As mensagens podem ser enviadas diretamente pelo www.doepalavras.com.br ou via Twitter, http://twitter.com/doepalavras.

(aliás, oportunidade i-m-p-e-r-d-í-v-e-l de salvar o twitter da inutilidade completa, não?)

En retard como sempre, só agora que fiquei sabendo... mas antes tarde do que nunca, minha gente!

Divulguem! Participem!

15 setembro 2010

♬ Nem tudo que reluz corrompe
Nem tudo que é bonito aparenta
Nem tudo que é infalível se aguenta

Nem tudo que ilude mente
Nem tudo que é gostoso tá quente
Nem tudo que se encaixa é pra sempre

Nem tudo que é sucesso se esquece
Nem todo pressentimento acontece

Nem tudo que se diz tá dito
Nem tudo que não é você é esquisito
 
Nem tudo que acaba aqui deixa de ser infinito... ♬
Zelia Duncan

Sem mais para o momento.

01 setembro 2010

ODEIO-TE, MEU AMOR!

Dia desses eu tava conversando com a Dani sobre aqueles seres que só desorientam sem trazer nada de bom. São relações exaustivas, irracionais, cheias de não-ditos mas apesar de absolutamente nocivas, contra todo o bom senso e amor próprio, são justamente elas que nos fazem mais vivas... COMO ASSIM, BIAL?

Todo mundo sabe o que é isso, aquele encosto de estimação que não há reza no mundo que exorcize? Vcs já perderam a linha, já se machucaram várias vezes, já tentaram ser civilizados, já disseram tchau mas ninguém vai embora! Minha gente, apego é capetice! Não não pode ser seu, vc nem sabe se quer de verdade mas não largaaaaaa!

Do meu encosto pleno levei quase uma vida pra desapegar. Perdi anos a fio presa sabe Deus a que, e agora que já passou não consigo lembrar de nada que tenha sido realmente do bem nessa história. Agora, com tantos anos de distância emocional, não encontro motivos pra'quela consumição toda.

Já com o encosto sênior tudo sempre me pareceu sob controle, mas a verdade é que além de tempo eu perdi a vergonha da cara, meu bom humor e um naco generoso de tolerância. Não construimos nada mas mesmo assim vezenquando eu ainda me pego com uma saudade fininha. (saudade de que exatamente ainda é um mistério!) Não nos vemos há meses e é a solução pra nós, pq tenho certeza que se a gente retomar o contato vou perder a serenidade.

Eu comecei a pensar nessas coisas recentemente, treinando o desapego de encosto júnior - que é a contra prova disso que estou pensando, que quanto mais esfarrapados os sentimentos, mas força eles têm pra nos prender: andei atrás desse homem um ano inteirinho, esmolando o amor tranquilo que achei que ele podia me trazer. Mas não fiz nada (muito) imbecil, nenhuma loucura. Era uma relação serena, sem grandes variações na CNTP rs Dai que tô fazendo um giga esforço pra esquecer, mas quando lembro eu só lamento o que a gente não vai ser e não o que fomos, entendem?

Com pleno e sênior era transparente como água que não tinha futuro e exatamente por isso devo ter vivido tudo-ao-mesmo-tempo-agora. E com júnior, que era mais próximo da normalidade que todo mundo precisa (?) um sentimento mais maduro e saudável, parece que justamente por ser possível não me gastou tanto.

Que doidera!



22 agosto 2010

RODA VIVA

Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade... Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.

Caio F.

Pq tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu... tsc

08 agosto 2010

REENCARNAR É BOM! (sic!)

Para ler ao som de Boas Novas, Cazuza

Ivan Martins escreveu sobre isso em sua coluna da Época e eu fiquei dias pensando na coisa.

Demorei pra escrever pq precisava me livrar do bloqueio de publicar "reencarnar", já que não acredito nisso. NÃO ACREDITO! Acho que a doutrina kardecista é um mecanismo psicológico que ameniza a dor de consciência coletiva (é mais fácil acreditar que o homem que esmola na esquina está pagando um carma do que reformar a sociedade de modo a criar um espacinho pra ele) e ajuda a superar a dor da perda, quando quem morre é amado. Pra mim que acredito em cada linha do credo católico, é muito difícil considerar a possibilidade de que os homens se salvam por seus próprios méritos e têm mais de uma vida pra isso. Deus cochila mas não dorme! Não seria justo com os bonzinhos dar várias outras vidas pros mauzinhos se endireitarem.

Isso posto, já posso escrever "reencarnar" sem culpinha cristã e partir pro que eu realmente queria dizer:

Ivan acha que alguns períodos existenciais são tão bem delimitados que pode-se dizer que saimos de uma vida pra começar outra. (Sobre!)vivemos coisas que, de tão fortes, encerram um ciclo e dão início a outro. Eu chamava esses verões - ou invernos! - emocionais de muertes chiquitas, mas sem me atentar muito a quem morria de fato: se eu ou o evento que me tirou dos trilhos da normalidade.

Pois o texto me clareou as idéias. Quem morre sou eu a cada vez que mudo o suficiente pra não reconhecer quem vejo refletido no espelho, a cada vez que dou passos pra fora das grades que me encerram na mesmice das escolhas e achismos! Dai que não tem como pensar nessas coisas e não ser grata à vida que nos dá oportunidades pra viver um ano em segundos e sendo uma só, nos deixar evoluir como se fossem várias.

Fiz umas continhas e parece que estou na minha 4ª encarnação:

minha 1ª morte foi seguidinha à de meu pai. Dormi criança e acordei adulta. Quem compareceu ao velório foi outra pessoa, perdida mas serena. Em cacos mas conformada como um velho; 

a 2ª foi quando a beata que morava em mim descobriu que tanto céu quanto inferno se inauguram pra nós juntamente com a consciência e que já começamos a viver aqui na terra o que escolhermos pra eternidade, seja lá onde for; 

a 3ª foi relativamente recente, entrelinhada aqui no rascunho inclusive. Relutei até a morte, mas aprendi que transgredir é transcender. (ahan, ciente que isso é muito bonito de se dizer mas não de se fazer hohoho)

Quem vive hoje em mim ainda precisa aprender muito mais coisas, desaprender outras tantas, se livrar de velharias e exorcizar um ou dois fantasmas ... no presente momento anda treinando o desapego, buscando um meio termo razoável entre o que é correto e o que é bom. Se eu tiver que morrer por isso, que seja. Por enquanto, ♬ então vamos pra vidaaaaaa !!!! ♬

01 agosto 2010

SERNAMBETIBA, 2900

Para ler ao som de Caminhos do Coração, do Gonzaguinha.

Eu não sei quanto tempo a vida esteve especialmente empenhada em orquestrar nosso encontro mas não poderia deixar de registrar que o trabalho foi engenhoso: eu consigo sair cedo do trabalho numa sexta feira medonha de abafada sem precisar contar uma única mentira, mas pego meia pista na Baixada e só chego onde deveria estar com 40 min de atraso; Mo, que odeia o lugar onde eu deveria estar mas foi me buscar assim mesmo, diz que me esperou no máximo uns 5 min; seguimos para o lugar de onde esperaríamos Can sair a francesa para finalmente nos sentarmos na primeira mesa de canto vaga para matar a pauladas uma saudade de 3 anos de comprimento por 2800 KM de largura aproxidamente. Es-pe-ra-rí-a-mos, pq Can não só não precisou sair a francesa, como já estava a alguns passos da porta quando pudemos avistar seu sorriso-de-gato-da-Alice. Sintonia fina, minha gente! O resto é bobagem...

Pensar em tudo isso me dá um nó na garganta de gratidão, viu? Por absoluta falta de palavras repito o que já disse quando nos conhecemos: essas delicadezas da vida provam pra quem ainda duvida que felidade pode ser simples como um aperto de mão, que afinidade nada tem a ver com constância e que não há um só ser normal nessa blogsfera! 

Desta vez tagarelei horrores, me meti desavergonhadamente na vida(?) profissional de Can, que por sua vez marcou dia e mês para a 1ª aparição do meu mais novo fantasma. (preciso de um nome pra ele, aceito sugestões!) mas apesar de ter gastado tempo demais falando só de mim, a gente pôde constatar que o passar dos anos nos fez muito bem: 

O inferno & céu de todo dia que Mo admistrava ainda existe, mas o fardo agora tem só a metade do peso. (creio que até menos, pq o Rui tem as costas largas!);

Os moinhos de vento de Can tb existem, mas a vida real tem consumido a pobre de tal forma que falta alma - e corpo - pra voragens que não apresentem riscos iminentes. Se isso é bom de tudo eu realmente não sei pq seu coração don quixotesco não foi feito para os aspectos burocháticos da vida. (Sinta-se carinhosamente alfinetada, tri!)

E quanto a mim, peter pan só volta pra casa a noite, pra dormir. Durante o dia sou uma versão "corporativa" de mim mesma. Me tornei um mulherão, que aprendeu a consertar os próprios enguiços (e mandar pro ferro velho o que não tiver salvação!), pisar firme as linhas que estão nas palmas das mãos. Em contrapartida - que a vida só se dá pra quem se deu - agora me acabo atrás de qualquer sensação e nem sempre isso é bom do início ao fim. 

Já estaria do tamanho de meus merecimentos voltar pra casa com um sorriso besta e com a fala meio abaianada. Mas a vida tira com uma mão e dá com a outra, vcs não duvidem disso (o contrário tb é verdadeiro, como se pode ver no post abaixo!). Dai que a logística de Mo não permitiu que a gente fosse ao Morro da Urca, mas os amigos que foram me buscar me deram de presente um por de sol bem embaixo dele, com o Cristo Redentor abençoando de longe.

Um brinde, tri-amadas. Agora até o taxista sabe que somos irmãs \o/




28 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP V

MOMENTO VDM

Conhecem o
Vida de Merda?

É um twittão pra gente reclamona. A matéria que li dizia que o site foi criado pq quem só twitta derrota não tem muitos seguidores e os poucos que seguem zoam um monte... gentem, é melhor que pérolas do orkut! Eu me acabo de rir lá.

Pois bem, a trip teve seu momento VDM mas felizmente foi só no final, pra eu poder chorar na minha cama, único lugar quente & adequado: 

Depois de passar todos esses dias congelando no deserto, piso no Brasil e o primeiro e-mail que recebo é de cabeça de bacalhau dizendo que o fantasma que o assombra há 5 anos fez um BOO diferente. Assim mesmo: 4 linhas tanto objetivas quanto impessoais só pra deixar registrado para a posteridade que enquanto eu revirava todas as lojinhas de San Pedro à caça de uma porra de uma cuia, ele decidia se vai pra Salvador ou se o fantasma vem pro RJ. 

O feladaputa nem se dignou a vir me dizer isso pessoalmenteeeeeee!!!!

(gentem, minhas derrotas não cabem em 240 caracteres, né?)

Manda a verdade que se diga que eu mereci. Mereci não, pq ninguém merece um pé na bunda virtual, mas procurei: perdi os últimos meses esperando contra todo o bom senso, aceitando com alegria franciscana as migalhas dormidas do pão do moço, raspas e restos semanais que nem queimavam nem aqueciam. tsc

Cabeça de bacalhau foi pauta recorrente aki no rascunho. A 1ª criatura que passa pela minha vida e achei que valia o investimento (pq eu achei isso continua um mistério, inda mais agora!). Lady Lispector disse que sempre há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam... eu achava que era isso, uma questão de time. Se eu concentrasse toda a paciência que me faltou a vida inteira, se fosse menos imediatista, se eu desse tudo que queria receber, se... se... se... TALVEZ finalmente chegasse a tal da benção da simultaneidade

Ledo engano, pessoas. (merda! Eu não tinha esse tempo todo pra perder!)

Claaaaaaaaro que fiquei tristinha, chorei e tal & tudo. Sigo abraçando a dor, ciente de que o inverno emocional será loooongo. (suspiro resignado) Mas seria muita ingratidão de minha parte voltar de um lugar f-o-d-á-s-t-i-c-o pra enguiçar nesse episódio lamentável hediondo!

Eu vi tanta coisa bonita, La Comuna é tão do bem, deu tudo tão certo, o soroche não derrubou ninguém... não tenho direito MERMO de vestir de novo meu xale de velha carpideira, né? Já gastei mais velas do que o defunto merece. Basta!

Mantra pra situação: sin perder la ternura jamás!!!! Aooooonnn

25 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP IV

ATACAMA x UYUNI

Desde que soube de sua existência, o Salar de Uyuni me instiga: a 3.650m de altitude, são quase 12.000 km² do que em priscas eras já foi um lago. Estima-se 10 bilhões de toneladas de sal. No caminho geysers, lagunas, uma piscina termal e uma ilha de cactus gigantes. Eu pre-ci-sa-va ver isso com meus próprios olhos!

Estava meio cabreira, afinal ia sozinha e os relatos do mochileiros.com de maneira geral diziam que não passar perrengues nessa travessia era questão de sorte. Como Murphy não me larga, melhor não facilitar: optei pela agência mais famosinha e fosse o que Deus quisesse. Não ia mesmo perder essas belezuras todas só pq o jeep poderia quebrar no meio do nada. "São Miguel Arcanjo, com suas asas protegei-me!" e bora lá! 

Pois vale cada um dos 80.000 chilenos que me custou! Não é papo de turista afetado, juro. Como já disse, adjetivos não dão conta  e só restam perguntas - sem respostas: como assim tanta lagoa no meio do deserto? Como assim as patinhas dos flamingos não congelam? Como assim os bichos não se contaminam com os excessos de lítio, potássio, boro e magnésio? Como assim uma ilha de cactus cresce em cima do sal? Como assim esses guias não se perdem?

Não sei onde fiquei mais deslumbrada pq o Salar de Tara tb é indecente mas acho que foram tipos diferentes de abestamento. Pq NADA no deserto se parece.


Os perrengues são os mesmos do Chile: altitude, vento e frio. O bônus boliviano é que no hay água caliente todos los dias! Entonces baño dia si, dia no. Não chegou a ser um transtorno, manda a verdade que se diga: nos viramos muito bem com lencinhos umidecidos. Dois banhos de gato diários é mais do que se espera nessas condições, convenhamos. (0 nariz a essas alturas está avariado, dai que não se sente cheiro de nada. Mas cheiros haviam: dos geysers certamente se volta fedendo a enxofre!)

20 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP III

SAN "PERRO" DE ATACAMA

San Pedro de Atacama é uma cidadezinha simpática no meio do nada do altiplano chileno. É toda palha & terra, do jeitinho que imaginei. E dá pra percorrer inteira a pé. A-d-o-r-o cidadezinhas assim, que dão pra conhecer a pé.

A vida só começa depois das 10:00 e ninguém tem pressa pra nada. Particularmente não há pressa alguma para fechar a conta do restaurante! As vezes rola uns blecautes mas ninguém se esquenta. (Teve um minutos antes do derradeiro jogo do Brasil e não houve uma boa alma pra acionar o gerador!)

É o lugar mais democrático que eu já vi: tudo para todos os tamanhos de bolso!

Lá tem mais cachorro do que turista, sério mesmo. E não são aqueles cachorros vadios, esquálidos... todos são bem criados: grandes, gordos e abusados. Estão por toda parte e não incomodam. (Andres, nosso guia em Santiago nos explicou: as ONG´s que cuidam de animais são muito atuantes e maltratar dá problemas)

Dei a sorte de chegar no dia da festa de São Pedro, pescador de hombres. O que encontrei foi uma mescla de cultura atacameña com ícones católicos. Não há o menor indício da beatice cristã, mas o capricho dos ornamentos do santo, do andor e dos estandartes a despeito da quantidade de fiéis para venerá-los me fez pensar que na cidade deve valer a regra do "menos é mais".  


Além dos cachorros, Deus colocou muitos lugares fodásticos ao redor. Não vi tudo, claro. E do que vi, deixo recomendadíssimo:  

Salar de Tara
A uns 170 KM de San Pedro, 4300 mts de altitude, mais de 35.000 hectares. Reza a lenda que lá estão as rochas mais antigas do mundo, as Catedrais de Tara.


Fotos não fazem jus a beleza daquele lugar e nenhum dos meus adjtivos hiperbólicos dá conta de descrever. Fiquei simplesmente hipnotizada.

O deserto te devolve o senso de perspectiva, sabe? Foi bom lembrar que sou um cisco na vastidão desse mundo... bom pra eu me convencer de vez: q-u-a-l-q-u-e-r vento me arrasta! Mas o Senhor do vento não vai me levar aonde as asas de sua proteção não possam me alcançar.

(eu sabia que esses dias  iam me revirar. Fiquei pensando nos meus enguiços, nas ninharias do dia a dia... tudo fica tão insignificante!) 

Pukara de Quitor
A uns 2 KM de San Pedro. Fomos de bicicleta! São 2,5 hectares de ruínas do que no sec XII foi uma fortaleza construída para defender o povo atacameño dos ataques dos incas.


Pedalada bem tranquila! Se eu consegui, qualquer um consegue. Maaaaaaaaaas a gente se atrasou muito na volta, escureceu, o riozinho que atravessamos encheu e nos perdemos. Momento tenso I. Confesso que a lanterninha não era suficiente pra minha miopia e atropelei TODAS as pedrinhas do caminho. Confesso tb que sempre ficava por último e gritava pro Gus me esperar hohoho

14 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP II

O INFERNO É FRIO

Eu não tenho dúvidas.

Digamos enton que fui abraçar o capeta: nesta terra faz um frio la-za-ren-to, minha gente!

Se chega fácil fácil a 0º e quando desce a menos que isso, parece que o couro já curtiu e a gente nem sente. Não sente nada: as pontas dos dedos, do nariz, das orelhas...

Eu me vestia a la cebola, em camadas. A 1ª é equivalente a calcinha e sutiã no Brasil: calça leggin + 2ª pele + meia de algodão + luva de lã 1/2 dedinho; a 2ª é jeans + moleton flanelado + meia de lã; a 3ª é um casaco pesado + cachecol + luva + gorro. E as vezes rolava até uma 4ª camada, um casaco corta vento + meia de lã de Alpaca. 

Dai que a gente tem noção do passar das horas pelas roupas que vai tirando: saimos de manhã empacotados conforme acima, mas na hora do almoço já dá pra liberar o casaco corta vento e a meia de alpaca; se o sol tiver quente (não se sente que está quente, mas como os lábios ressecam uma quantidade, a gente desconfia) dá pra tirar o moleton de baixo do casaco pesado e o cachecol. Dai já está entardecendo, começa a ventar e precisa vestir tudo de novo.

Cada dia é uma coisa que te gasta: um dia é o ouvido que dói por causa da altitude ou vento; noutro são os dedos dos pés que meia nenhuma dá conta de aquecer; noutro é o nariz que arde pq se respira um ar gelado, noutro é a garganta que reclama o pó que engoliu, TODOS os dias te falta ar pra algum esforço a mais... 

Detalhe importante: não sei se pela temperatura, pela altitude ou pelos dois (mais provável) o meu nariz sangrou! Dai que virou um hábito tão comum como escovar os dentes expelir o sanguinho coagulado de manhã e passar o dia borrifando soro fisiológico. 

Detalhe importante²: só protetor solar não basta. A noite tem que rolar uma manteiga de cacau nos lábios. Pro resto do corpo, não há hidratante que chegue. Fica tudo um casco, mas terei o resto do mês pra cuidar disso.

Detalhe importante³: o vento castigou meus olhos. Deve ser um combo de falta dos óculos de grau + vento + claridade, mas o fato é que também virou hábito lava-los com soro.

Ninharias, por supuesto. Nada que te mate, mas lá pelas 23:00 a gente está suspirando por uma cama quentinha...

Por tudo que se vê, achei um preço justo!!!



11 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP I

Voltei, meu povo. 

Meu cabelo tá uma palha, minha pele um casco, meu nariz ainda não voltou ao normal, mas estou deslumbrada.

Pra começar o diarinho, vamos às distâncias:

VR X RJ - uns 100 km

RJ X Santiago - uns 3600 km

Santiago X Calama - uns 1500 km

Calama X San Pedro de Atacama - uns 95 km

San Pedro de Atacama X Uyuni - uns 2300 km

(Sem contar os tours próximos a San Pedro, acho que o mais distante foi o Salar de Tara, a 170 km)

Como já avisei, os textos vão ser meio iguais por enquanto... rs


GENTE DO BEM ATRAI GENTE DO BEM

É uma das poucas certezas que tenho nesta vida. Penso que a paz mundial depende tanto de Israel ou EUA quanto de mim e de vc que, com atitudes desarmadas (e num esforço diário para não empacar a vida, nem a própria nem a alheia!) podemos fazer deste mundo um lugar mais habitável.

Dai que eu estava decidida a começar essa trip sozinha. Pesquisei tudo como se fosse mesmo, mas acho que Deus ficou com pena e me mandou não um mas TRÊS companheiros para a viagem \o/

Ana chegou primeiro, depois o Gustavo e (praticamente na semana do embarque!) o Luiz. Brasília, Anápolis e Rio. Se a gente já se conhecesse não teria dado tão certo.

Ana é a alma da trip. Daquele tipo que quer curtir as 24 hrs do dia e acha que se for pra dormir, que seja no Brasil. Não recusou nenhuma cerveza ou pisco sour e voltou levemente frustrada por não ter conseguido cia. pra escalar o vulcão Láscar. Luiz e eu melamos o skibunda que ela pretendia fazer no Vale de la Luna, mas creio que isso ela já superou.

Gustavo é o coração. Sempre carinhoso e interessado em tudo e todos, não se irritou com a minha obesessão por fotos sem sombras e cedeu gentilmente seu soro fisiológico e um cadeado (o meu troquei a senha sem querer e fiquei com medo de usar). Nossa afinidade foi instantanea desde o MSN. 

Luiz é nosso GPS. Mochileiro advanced, sem roteiro nem passagem de volta marcada, ele não riu quando Ana e eu nos perdemos nas 4 ruas de San Pedro, aguentou estoicamente o frio do seu quarto e administrou com diplomacia o princípio de motim no Hotel de Sal... hohoho

La Comuna "tinha tudo em comum e dividia seus bens com alegria": água, hidratante, protetor solar, lencinhos umedecidos, biscoitos, barras de cereal e, quando preciso, até $

Sou muito grata a cada um deles por terem feito essa trip tããããããããão mais fácil.

27 junho 2010

FÉRIAS

Muito esperadas e merecidas³.

Nos próximos dias estarei por ai... 


Já vou avisando aos parcos e queridos leitores que depois dessa trip os post´s ficarão um cadim monotemáticos hohoho

23 junho 2010

SOBRE A NOVA IDADE MÉDIA

Não lembro se já disse aqui, mas eu escuto conversa alheia. Não todas, mas escuto.

Engraçado que sou bem dispersa: não reparo decorações/roupas/cabelos e tenho senso de direção praticamente nulo, mas se eu tiver paradinha esperando alguma coisa (sentadinha é melhor ainda!) e vc tiver falando com alguém perto de mim é bem possível que eu participe do seu assunto. Passivamente, mas com muita atenção. rs Se não me agrada, desplugo fácil também.

Em todos esses anos de exercício em filas, ônibus, consultórios e tals aprendi que o nível do assunto é proporcional à idade de quem conversa: velhinhos não falam só de doenças não!!! Já escutei coisas bacaníssimas, verdadeiras lições de desprendimento, de sabedoria e até de bom humor (aquele que me falta!) Escutar criança também é bem legal... mas no geral adolescentes são chatos e depressivos, mães reclamam de filhos, homens reclamam do emprego/time e mulheres reclamam de homens.

Pois bem, isso foi uma introdução. Quero mesmo é contar uma coisa que ouvi ontem na fila da C & A. Se não tivesse ouvido com as duas orelhas, não ia acreditar que ainda se pensa assim em pleno seculo XXI. 

Duas mulheres, uma de uns 30 anos e outra mais velha, tipo uns 40 assim... ambas reclamando da pãodurice de seus companheiros. Veja bem: companheiros. Não eram maridos! Ambas sem fonte de renda própria, indignadas pq não sabem o salário de seus namoridos. Diziam que já tentaram de tudo: pediram pra ter conta conjunta, fuxicaram nos documentos deles, perguntaram velada e abertamente... segundo a mais velha, só tem "uma idéia pelas coisas que ele compra lá pra casa" A mais nova disse que "deve ser muito, pq ele dá tudo que eu quero". 

Dai elas partiram pras confissões, como faziam pra arrancar dinheiro deles. Mentiras, chantagens, pequenos furtos... La-men-tá-vel! Lá pelas tantas a mais nova cogitou arrumar um emprego, pq ficava irritada cada vez que o cara reclamava para pagar a fatura do cartão DELA.

Até então eu estava escutando envergonhada, mas depois fiquei sinceramente interessada. Merece especulação, oras! Mulheres saudáveis, relativamente jovens, solteiras e desempregadas vivendo sob o financiamento de homens que não são seus pais ou parentes. Jurava que isso só acontecia na classe AA. Pra mim a plebe só se juntava pra dividir despesas hohoho 

(Tá, não é só pra dividir despesas que o povo se junta, mas enfim... eu não imaginava que pobre também bancava mulher sem estar casado com ela. E na minha eterna polianice não imaginava MESMO que mulheres ainda pudessem achar que homens tem obrigação de sustenta-las.)

Bem, não dá pra generalizar. São apenas dois casais!

O fato é que mesmo fazendo todo o esforço (possível!) pra não julgar, voltei pra casa pensando em quantas mulheres gostariam de uma "fonte de financiamento" dessas... sim, pq as que fazem os namorados de taxi, as que se ofendem em rachar as despesas (fora as de motel, peloamor!) e não tem escrúpulos para gastar o suado dinheirinho alheio-mas-não-tão-alheio-assim, estão a um passo curto das minhas colegas de fila...

Não?

31 maio 2010

PERTO DEMAIS

Dizem que intimidade é uma merda e as vezes é mesmo. Mas em outras tantas - e não poucas! - é justamente ela que abre caminho pro delicado da vida...

Ontem Biel veio me ver. Biel mora em BH e sempre que está na terrinha faça chuva ou faça sol ele vem me ver. Sagrado. Quase um ritual. Sem obrigação alguma, pelo simples prazer de estar. 

Ele vem, me diz o que anda lendo; me conta algum surto de mau-mocismo (invariavelmente provocado pelo mau atendimento prestado por alguma loja/empresa: ele tem um pára-raios para problemas dignos de PROCON); me dá notícias da vó; pergunta sobre alguns conhecidos em quem nunca mais pousamos os olhos... eu lhe conto dos meus enguiços & achismos e quando nos damos conta já se passaram hooooras!

Ontem não foi diferente. Fora um detalhe que, aliás, se não escrevesse me escaparia: estava eu repassando os fatos novos da minha historinha novelesca quando pisca a janelinha do MSN. Era cabeça de bacalhau - a quem não via há uma semana e tinha uma vaga esperancinha de ver ainda aquela noite.

Não me ocorreu conversar com ele. Resmunguei mentalmente um "mas isso são horas, seu feladaputa?!" e só. Eu que acho o fim do mundo ter visita e ficar no tel. mais do que o extremamente necessário, nunca-jamais-em-tempo-algum ia pedir licença a Biel pra papear no MSN, nem se fosse com sua Santidade.

Mas era o meu cabeça de bacalhau, né? Precisava pelo menos digitar um "a gente se fala daqui a pouco, estou com visitas" Enquanto fazia isso, Biel se despediu com a placidez de anjo que lhe é peculiar (bem, que é peculiar pelo menos a maior parte do tempo rs) me deixou uns livros e se foi.

Sem melindres, sem crise. Não fiquei com vergonha e tenho absoluta certeza que ele não se sentiu preterido. Antoine de Saint de Exupery diz que
existe uma altitude de relações onde o reconhecimento perde todo o sentido. É o nosso caso. Nossa amizade se eleva sobre os imperativos do aqui-agora e sobrevive, ilesa, há meeeeeses sem contato.

No mesmo livro aprendi que a verdade é o que simplifica o mundo e não o que gera o caos. Biel e eu estamos treinando...



24 maio 2010

SUBMISSION

Esse curta de apenas 10 min. custou a vida do cineasta Theo Van Gogh. Foi assassinado numa manhã de 2004 em Amsterdã por um jovem muçulmano indignado com as verdades do Alcorão expressas sem a devida deferência.

Tive a sorte de nascer no Brasil, um país cheio de defeitos mas poupado da desgraça que é fundamentalismo religioso. Por aqui mata-se por ninharia como em qualquer lugar do mundo, mata-se por covardia, por desespero, por despreparo... mas não em nome de Deus. Por aqui os falsos deuses atendem por vários nomes, nomes próprios. Quase todos tem CPF. Alguns até CNPJ!

O Islã me intriga mais até do que o Judaísmo. O Deus dos judeus nem sempre é pai. Mas parece-me que o dos muçulmanos nunca é. (manda a verdade que se diga: num passado nem tão pretérito assim, o Deus dos católicos também não parecia ser... tsc)

Em nome de Allah milhões de homens e mulheres vivem encerrados na mais completa ignorância, praticando uma fé farisaica, limitante, irracional até. E o pior: a grande maioria jamais vai se dar conta disso!

Em nome de Allah povoados inteiros se conformam com o seu atraso, justificam sua crueldade sem nome, reincidindo geração após geração nos mesmos erros.

Não é possível que isso seja vontade de Deus! Não é.

O documentário tem os dez dedos de Ayaan Hirsi Ali, uma somali que se refugiou na Holanda. Ela também foi condenada pelo mesmo "crime" de Theo. Sua sentença de morte foi cravada no peito do cineasta sob a ponta da faca que o degolou! O objetivo de Submission era chamar a atenção para a indigência em que vivem boa parte das mulheres muçulmanas. Válido, claro. Qualquer dedo de se mova já é alguma coisa. 




G-e-n-i-a-l tatuar frases do Alcorão no corpo de uma mulher velada com uma burca transparente! A imagem tem força própria! Se o filme não tivesse sequer uma frase ainda assim seria eloquente!

Como não-muçulmana, o que achei lamentável foi essa mulher se dirigir a Allah acreditando mesmo que é Ele quem a sujeita dessa forma.

"O veredicto que matou minha fé no amor está em seu livro sagrado!"

Tristíssimo.

13 maio 2010

O MELHOR MÉTODO ANTICONCEPCIONAL DO MUNDO

A Época publicou uma matéria com esse título dia desses.

Alguém criou um blog pra publicar as capetices que suas crianças já aprontaram e Letícia Sorg especula em seu texto que talvez depois de ver tantas lambanças as mulheres pensem melhor antes de engravidar... pelo nome e pelo pouco que entendi, a idéia é mostrar o $ prejuízo $ que é ter filhos...

Fui lá e me acabei. Gentem, não é possível que crianças façam tanto estrago!!! rs Se as legendas eram tão boas quanto as fotos jamais saberei pq eu não sei lhufas de inglês, mas não tenho dúvidas que os pais que enviam essas fotos também se divertem muito.

Tá bom, é engraçado. Mas deve dar uma vontadinha de chorar a pessoa se distrair um pouquinho e encontrar isso:





Vamu combiná? Onde estavam os pais dessas criaturas? Na hora exata da façanha, claro, estavam bem longe. Mas e antes? E depois?

Dani disse que "essas coisas acontecem em um minuto" e eu acredito. Mas pelo que ouço por ai parece que há uma certa vaidade - ou mau hábito arraigado - de alguns pais em dizer que suas crianças são impossíveis. Há também aquela raça que acha que educar é tarefa da escola. Fora aqueles que mesmo adultos ainda precisam que alguém lhes imponha os limites... a pobre criança, vítima de pais assim, pode agir diferente?

Overpensando: achando muito normal & engraçadinho dizer que meus-filhos-me-arruinaram a humanidade caminha pra onde?

(tá, meio ranzinza o texto... mas enfim)

30 abril 2010

LEGION

Foi o filme que salvou meu domingo. (Pra ser mais precisa, uma mísera frase nos salvou - a mim e ao domingo - do desperdício total)

Legion é confuso. Não entendi direito o que o diretor quis com aquilo: começamos com um São Miguel Arcanjo caído do céu pq se negou a obedecer as ordens de Deus de acabar com a humanidade (hã?) Poizé, o Todo Poderoso desistiu da raça humana e enviou sua legião de anjos para dizimir o mundo.

Só que Miguel ainda acredita nos homens e veio à terra (cortou suas asas com uma faca  do rambo!) para nos defender... a continuação da raça humana dependia - não ficou muito claro pq - do nascimento de uma criança, bb sem pai, gerado sem querer, por uma garçonete que trabalha a beira de uma estrada no meio do nada. A garçonete tem um fã, um homem bonzinho que ao longo dos anos vem limpando as merdas que ela faz, com a fidelidade de um cão. Obviamente, a garçonete não lhe dá o devido valor.

A coisa começa a ficar mais non sense pq a legião de anjos de Deus se apodera dos corpos dos homens (eles ficam com aspecto de zumbis mas são agéis e fortes como demônios. Só que eles morrem facinho) e todos vão atentar contra a vida da criança. Num dos vários combates, um São Gabriel right tech desce do céu pra lutar contra São Miguel. No meio dessa confusão é que sai a frase que gostei.

"vc está dando o que ele quer. Eu vou dar o que ele precisa" hum...

Que há de haver uma distinção clara entre querer e precisar creio que ninguém discuta. (embora na prática a gente se confunda muitas vezes) O mundo ainda não acabou pq pelo menos Deus tem esse senso de prioridade bem apurado. Ele tem que ter. Pq o nosso senso é nada confiável.

A danação do homem é precisamente querer o que não precisa, mover mundos para conseguir e morrer de tédio quando tem a coisa nas mãos. Dai querer outra coisa, e seguir querendo e querendo sem saber o que realmente precisa. Do jeito que falo parece que é tudo muito óbvio, mas gastei 2 anos de terapia para começar a prestar atenção no que preciso. (e gastarei uma vida inteira pra me livrar dos enroscos decorrentes de querer tudo-ao-mesmo-tempo-agora! hohoho)

Não é tarefa fácil, asseguro. Já constatei que preciso de bem menos do que a maioria de mulheres ao meu redor. Mas é aquilo: "menos é mais", de modo que mesmo pouco fica complicado alcançar pq normalmente o que eu preciso esbarra no que vc está disposto a dar.

Não é uma merda? Como eu vou saber até onde são legítimas as minhas precisâncias?

Se eu preciso, é legítimo e vc não quer dar, com quem eu reclamo? (de maneira geral, eu vou ali no cantinho, sento e choro, depois faço uma piada amarela e sigo... ♬ e ninguém aqui vai notar que eu jamais serei a mesma ♬)

Querências a gente troca uma por outra com relativa facilidade... já as precisâncias são (ainda!) mais complicadas. E pra piorar, parece-me que algumas delas vem com defeito de fábrica: pra ficar num exemplo só, eu preciso de inteireza. De gente estando no que faz, sendo, sentindo e falando com alguma honestidade e sem querer pedir demais, imaginem, prestando atenção no impacto que isso causa nos outros. 

Pq eu preciso disso é um mistério, não escolhi, juro que não. É utópico esperar isso das pessoas (embora a vida nos surpreenda as vezes!) e é hipócrita de minha parte dizer que preciso de algo que nem eu mesma estou disposta a dar sempre. (vivo me cansando de ser eu mesma!)

Que mundo preciso habitar, hein? tsc

13 abril 2010

SOLIDÃO AMIGA DO PEITO

Dizem que o diabo mora nos detalhes... M-e-n-t-i-r-a!

Deus mora nos detalhes. O diabo mora é no vazio:

Não naquele vazio que Drummond achou que era falta, ausência. Felizmente ele descobriu a tempo de nos ensinar que esse tipo de vazio é apenas um "estar em si".

Não naquele que Nietzsche tomou por companheiro.

Não naquele fundamental, transcendente e quase terapêutico que faz a gente se perguntar se Sartre não estaria certo quando disse que o inferno é o outro...

A casa do diabo é aquele vazio que ocupa todo o espaço que a gente dá e ainda nos toma o restinho que sobrou, o que a gente não daria, se pudesse. É o vácuo que responde pelo nome que chamarmos e que se alimenta basicamente do que a gente pensa que é bom, abstraindo o fato de que a vida real quase nunca é tão boa quanto a imaginação. 

As vezes estar junto é - diabolicamente - uma forma de solidão. Não é um bom álibi se esconder de si mesmo no outro!?! Eu costumava dizer sem um pingo de vergonha que tive sorte por encontrar bons refúgios: pessoas que me ajudavam a esquecer de que estava me escondendo... pode até haver troca mas isso não é comunhão e só por isso não pode dar bons frutos! 

Agora entendo melhor o que se passa e comigo, perto de mim e sempre tão longe de tudo...

* inspirado numa crônica de Rubens Alves, em "Um Mundo Num Grão de Areia"


02 abril 2010

PQ TODAS AS CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS


E é precisamente por isso que não vou sequer escrever a que eu tenho em mente... corro o seríssimo risco de enviar. rs

Dia desses fui a um show do Vander Lee e voltei pra casa levemente irritada por ter me permitido vaguear sem resistência alguma pelas melhores lembranças que tenho de um certo mocinho a quem eu já deveria ter dado tchau há meses.

(Juro que já tentei. Várias vezes. Quase que a cada semana invento uma nova-resolução-para-exorcizar-esse-ser mas deve me faltar força de vontade, pq até agora todas falharam. A resolução desta semana é parar de fazer comentários amargos. Já que não consigo me livrar dele, vou tentar me livrar do vício de falar dele, entendem? 

Mas voltando: foi mais um daqueles shows que eu adoro: assisti sentadinha, platéia civilizada, só voz e violão. Delícia. A pretensa carta foi se escrevendo praticamente sozinha, entre um verso mais dolorido e outro que diz o que eu diria, se tivesse talento... antes do bis eu já tinha tudo mentalmente rascunhado e fiquei pasma com o nível de pieguice da coisa. E mais pasma ainda pq até agora estou achando tudo perfeitamente razoável de se dizer.

Bem, perfeitamente razoável não. Nem tudo que é verdadeiro é razoável. Pode ser verdadeiro mas NÃO PODE ser razoável assinar nada que contenha "todo atalho finda em seu sorriso". Não nessa situação, caraleos!

Morro de saudade e a culpa é dele. Assumo.

Ando meio louca por ainda querer esse homem. Assumo.

Tudo que faço só tem me servido para lembrar ainda mais o que quero esquecer. Assumo.

Mas jesuiscristo, pq não basta assumir só pra mim? Quem mais precisa dessa confissão? Já é suficientemente patético a gente pensar essas coisas! Escrever dá forma aos sentimentos! (e nesse caso em que a reciprocidade acena de beeeem longe, eles são como balões infláveis: lindos e inúteis)

N.A: ah pessoas, que seria de mim se não fosse esse rascunho? Já perdi 97% da vontade de dizer qualquer coisa a esse mocinho duzinfernu... agora só estou me sentindo meio besta, mas isso não é nenhuma novidade pra vcs...


28 março 2010

MARIA DAS DORES


Maria das Dores foi o nome que dei à pessoa sobre quem vou escrever nas próximas linhas. Julgo procedente a observação de Daniel, que disse pra eu usar outro nome quando fosse falar dos outros aqui. 

Maria das Dores tem 40 anos, um noivo cabeça de bacalhau, dois ouvidos de turbeculoso, uma língua venenosa e TODAS as doenças existentes (e também as que aguardam um batismo cristão científico). Trabalha comigo há 1 ano e não conta com a minha mais remota simpatia.

Nesta semana que passou, pra me distrair um pouco (e já pensando num texto, confesso!) resolvi anotar todas as suas queixas. Motivo razoável para isso não existe. Foi só um espírito de porco que baixou de frente, me deixando inclinada a esse tipo de inutilidade.

O fato é que ela não repetiu nenhum sintoma. Para cada dia houve uma dor diferente e insuportável lhe atrapalhando a vida. Ela já está tão habituada a isso que no meio de uma conversa qualquer é capaz de interromper o que está dizendo, pedir desculpas, dizer o que lhe dói no momento e retomar o assunto. Comigo acontece as vezes de lhe chamar, ela responder imediatamente, se desculpando por não ter me ouvido, mas-é-que-minha-cabeça-está-explodindo-e-não-consigo-pensar-direito. Impressionante.

Todo mundo conhece gente assim. Eles estão por toda parte. Meu interesse pelo assunto nasceu quando descobri que eles não são, necessariamente, velhos: Penadinho tem apenas 30 anos e já acumula mais conhecimentos médicos que sua avó, seu pai e sua mãe JUNTOS! Foi com ele que aprendi que sexo é um anti histamínico natural. Para ser justa devo acrescentar que sua hipocondria já me poupou 2 consultas. Usei o que ele prescreveu e deu hiper certo. 

Mas o que leva alguém a chegar a esses níveis? Não pode ser só o medo de morrer... 

Será que pode ser considerado como um vício?

Será que tem cura?

Não é intrigante a pessoa ter tanto pavor de ficar doente que acaba ficando mesmo?

Partindo para os meus achismos: Maria das Dores demanda doses extras de atenção. (Penadinho também, mas lançava mão de outros expedientes para conseguir a minha) Mas pq acha que se dizendo permanentemente avariada ela conseguiria? Isso funciona na infância, sem dúvidas, mas como ela ainda não enxergou que não funciona com adultos? Aliás: será que ela tem, semi conscientemente, a intenção de atrair a atenção dos outros com seu calvário in box? O que a faz supor que pode funcionar? E se não tem intenção, pq diabos faz isso???

(percebam que ela só não tem a minha simpatia, mas a minha curiosidade ela tem, inteirinha rs)

Bom, voltando. Dai que na sexta feira eu me senti tentadíssima a lhe entregar o papelzinho com suas doenças da semana. Ia ser bem escroto da minha parte e só por isso não fiz, mas perdi uns bons minutos imaginando qual seria a reação. Será que ela me acharia escrota e ponto? Nem ia parar pra pensar se era possível a um vivente sentir uma coisa diferente a cada dia, todo dia?

Jamais saberemos. tsc

21 março 2010

SÉRIE O BONEQUINHO VIU Nº 5

Dia desses eu fui ver a peça tri-recomendada de Elisa Lucinda:



Estou encantada! É tudo que consigo dizer a respeito. Deixo pra vcs a essência da coisa:

Libação

É do nascedouro da vida a grandeza.
É da sua natureza a fartura, a proliferação 
os cromossomiais encontros,
os brotos, os processos caules, 
os processos sementes, 
os processos troncos,
os processos flores,
são suas mais finas dores...

As conseqüências cachos,
as conseqüências leite,
as conseqüências folhas, 
as conseqüências frutos,
são suas cores mais belas

É da substância do átomo
ser partível, produtivo, ativo e gerador 
Tudo é no seu âmago e início,
patrício da riqueza, solstício da realeza

É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la,
não roê-la com nossos minúsculos gestos ratos, 
nossos fatos apinhados de pequenezas,
cabe a nós enchê-la
, cheio que é o seu princípio 

Todo vazio é grávido desse benevolente risco
todo presente é guarnecido do estado potencial de futuro 

Peço ao ano-novo
Peço aos deuses do calendário 
Peço aos orixás das transformações: 
nos livrem do infértil da ninharia!
nos protejam da vaidade burra
da vaidade "minha", desumana, sozinha
Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que ao nos aumentar nos amesquinha.
 

A vida não tem ensaio mas tem novas chances: 
Viva a burilação eterna! 
Viva a possibilidade, o esmeril dos dissabores! 
abaixo o estéril arrependimento,
a duração inútil dos rancores! 


Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente e a virgindade dos dias que virão!

11 março 2010

BEIJO MULTIMÍDIA

Amor ensina o óbvio. É o que eu mais gosto de aprender.

Nem sempre mereço atenção. As crianças têm o direito de serem tolas, por isso são mais sábias.

Minha namorada narrava as diferenças entre o Playstation e o Nintendo Wii e mencionou a expressão device. Eu nunca descobri o significado. No passado, utilizei o termo pela intuição, coitado de quem me ouviu.

- O que é?

- Está brincando?

- Não sei, o que é?

- Para de gozação!

Admiti que conhecia, pois estava ficando chato. Já me sentia um ignorante. Como desconheço device aos 37 anos? Como?

Ela anteviu que tirava sarro dela, que me fingia de burro para que explicasse à toa. Como ninguém quer ser idiota, fica complicado salvar a idiotice alheia.

Eu era burro mesmo. Tentei resolver essa lacuna e abrir espaço para outras ignorâncias. Confesso que careci de coragem para teimar e imprimi uma risada apaziguadora. Soou como brincadeira.

O que me arrebata é a chance de ser puro. Como muitos juram que sou malandro e maquiavélico, arriado e abusado, dificilmente alguém confia na minha limitação. A curiosidade sofre os efeitos colaterais da reputação e não recebe reforço.

De vez em quando, Cínthya esquece quem eu sou para me amar mais. E é minha melhor professora: Teimei em entrar com uma ameixa em seu carro. Vermelha, lustrosa, com todo o verão dentro. Estávamos atrasados. Costumo comê-la com o rosto inclinado ao chão para derramar o prejuízo no tapete dos pés. Não estudei como destroçaria a fruta em seu carro. Sentei no impulso, traindo minha atitude selvagem e desprezando o encolhimento do espaço.

Dei uma mordida e o sumo escorreu para a calça; ela olhando, limpei. Na segunda investida, já de pernas abertas, o líquido infestou o banco; ela olhando, disfarcei. Quando consegui espirrar no vidro, ela interferiu na operação, não havia como se manter distante. Ou falava ou seu twingo se transformava num liquidificador:

- Vem cá, por que não chupa ao morder?

- Chupar ao morder? Posso?

- Claro, depois que larga os dentes, chupa.

Ela aceitou meu despreparo e contornou o caroço e mordeu e chupou perfeitamente. Engoliu a lasca e o suco. Vi que podia. Pena que não tinha mais ameixas para exercitar.

- Onde aprendeu?

- Em Constantina, sou campeã para não me sujar.

Ainda não perguntei sobre os efeitos colaterais dessa aula. Mas não duvido que não tenha influenciado até minha forma de beijá-la.
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Fabrício Carpinejar, aqui ó


Eu já disse por aqui que há um correspondente feminino para a letra de "garotos" do Leoni? Pois há. Talvez por gravar ainda, mas há. Não tenho dúvida.

Machos que inspiram esse tipo de música andam alguns passos a frente do resto de sua raça e não encontramos em qualquer esquina, obviamente. Eu mesma, pra ser sincera, só conheço dois. (vindo de mim não é um número que mereça espanto, dado o tamanho ridículo do meu espaço amostral!) 

Os donos dos dentes e sorrisos que mastigam meu juízo não têm talento pra escrever como Carpinejar, pq perfeição só existe no céu. Mas não posso deixar de fantasiar: qualquer um que consiga dizer sem dizer como ele fez no texto acima tem TODOS os predicados para inspirar um CD inteirinho... ui!


06 março 2010

PROJETO FAMÍLIAS RENOVADAS

Li dia desses na BBC Brasil que uma arquidiocese italiana organizou um curso para sogras aprenderem a não perturbar a vida dos casais.


Achei sensacional. (e levemente consolador: é sempre bom ver nos jornais alguma iniciativa útil, já que a Igreja só vira manchete se for escândalo sexual ou quando alguma autoridade eclesial diz ou faz alguma coisa imbecil)  

Pode funcionar. Creio que boa parte das sogras católicas deve ser beeeem beata. Se ouvirem as obviedades relativas ao assunto dentro da Igreja, talvez tomem como preceito cristão hohoho

A idéia é boa mas não vai à raiz do problema. Para que "sogra" deixe de ser sinônimo de encrenca, na minha modesta opinião deveriam pensar num curso para mães, que criando filhos emocionalmente melhores, formarão melhores pais, que quando se tornarem avós serão melhores também. Cortando o cordão umbilical na hora certa - no parto!, criando meninas e meninos com os mesmos direitos e deveres, dando limites, construindo valores baseados no "ser" e não no "ter" e tal & tudo. A coisa não se resolve em poucos anos... 

Minha tese é baseada na atenta observação de um ser que só aprendeu a passar suas roupas aos 30 anos e por absoluta falta de opção: meu irmão. É que sra. minha mãe, depois de longos e honrosos anos de trabalho, se aposentou. Hoje em dia ela é só avó. Não dedica mais 40 horas semanais do seu tempo administrando o lar de modo que ou ele se mexe ou anda sujo e amassado. Pq eu - que lavo e passo minha roupa desde os 13 anos, me recuso sorridentemente a ratificar com a minha conivência essa idéia de jerico que homem não foi feito para tarefas domésticas.

Faço tudo que posso por uma adaptação menos traumática: já ensinei o caminho da máquina de lavar, apresentei a cafeteira, contei que se o ovo não estiver gelado, não vai espirar quando cair na panela e demonstrei numa aula prática que o único item auto limpante da casa é o forno: assisti, indiferente, ele precisar comprar cuecas e meias pq não tinha mais NENHUMA limpa ...

Sinhozinho não só aprendeu rápido como não lhe caiu nenhum dedo! Até pq ele - como todos os outros homo sapiens - tem uma noção razoável da dinâmica da coisa: ele sabe que se alguém sentar com o biquini molhado no banco do carro vai ficar fedendo jaula. Só não aplica o mesmo conceito à toalha molhada que deixa sobre a cama pq sua digníssima genitora lhe tirou a oportunidade de constatar a verdade da teoria cada vez que recolheu a peça e estendeu no varal.

Mas e dai? Dai que eu acho que se minha mãe tivesse se ocupado menos com o filho - além de não ter criado um homem quase imprestável e potencialmente um estorvo de marido - ela teria vivido melhor a própria vida e não precisaria se ocupar com a alheia.

Nada me tira da cabeça que sogras não nascem com vocação pra capetice: é por falta de assunto, por não saber o que fazer com o tempo livre que se metem tão desavergonhadamente em assuntos que não lhes dizem mais respeito.