10 janeiro 2009

TERESA, EL CUERPO DE CRISTO

Castela, meados do século 16. Nossa igreja é atacada por fora tornando-se sombria por dentro(...)Nas praças queimam-se corpos para salvar almas. Todos os corações estão dominados pelo medo.

Todos, menos um:
[Close em Paz Vega]

Sou vossa, pois me criastes
vossa, pois me redimistes
vossa, pois sofrestes por mim
vossa, pois me chamastes
vossa, pois me conservastes
vossa, pois não me perdi
[Plano se expandindo, portas se abrindo ao avanço de seus passos firmes. Semblante sereníssimo]


O que mandais saber de mim?

Per.fei.to! O espanhol dá o tom exato da seriedade dessa entrega. Com uma protagonista desse quilate não entendo mesmo pq julgaram necessário torcer tanto assim a verdade dos fatos, mas enfim...

Teresa de Cepeda y Ahumada, canonizada em 1622, a 1ª mulher a receber o título de Doutora da Igreja, cuja obra literária talvez seja a mais importante da Espanha Quinhentista... foi perseguida pela Inquisição por conta de êxtases involuntários (a mulher levitava a vários cm´s do chão, assim, do nada!) e visões de Cristo Crucificado. Teresa morreu em 1582, aos 67 anos. Após a morte, seu corpo exalava um perfume deliciosíssimo e até o presente dia se conserva intacto. Seu coração, apresentando larga e profunda ferida, encontra-se exposto num relicário na Igreja das Carmelitas em Alba, Espanha.


O filme mostra Teresa se enterrando num convento pq foi "desonrada", o que particularmente acho até possível, nos seus manuscritos nada é dito com clareza mas dá pra depreender alguma coisa nesse sentido. PONTO. A esculhambação está em dar um nuance sexual aos êxtases. Desnecessário, leviano e absolutamente improvável, que em tempos de caça às bruxas nenhum ser humano razoavelmente lúcido (louco
tinha aos montes!) incorreria num sacrilégio desse tamanho. Aliás, quem escolhe isso? Quem iria correr o risco de virar churrasquinho por sustentar uma mentira? Felizmente as cenas que insinuam essa sandice são poucas, curtas e nada explícitas.

Como fã de carteirinha dessa mulher de chumbo, que deu o sangue na reforma da Ordem Carmelita, eu me sinto na obrigação de ponderar: se naquela época nebulosa da Igreja mulher não sentia prazer nem com o próprio marido, avalie o que seria na cabeça delas fornicar com o Senhor!!!! Essa idéia imbecil só podia mesmo nascer de uma mente herética e insegura quanto a sua competência. Quem precisa polemizar para ganhar atenção sobre o seu trabalho está atestando a falta de talento pra atrair expectadores pela obra em si.

Fora esse vacilo, o filme é bom: a fotografia é belíssima, roteiro consistente (
dá pra reconhecer nas falas trechos dos manuscritos), o temperamento da personagem bem assimilado pela atriz, sem grandes lapsos na cronologia... bonequinho gostou!

3 comentários:

Jana disse...

Vim certa que encontraria o texto do ônus da honestidade, mas encontrei esse teu texto tão... denso, fiquei curiosa quanto ao filme...

beijo

Anônimo disse...

vou assistir, parece interessante. bjs

Daniel Rangel disse...

Que pena ainda vermos posturas assim... Infelizmente, essa prática sensacionalista e apelativa (talvez) percebemos ser comum em alguns produtos culturais contemporâneos. Seu comentário sobre a competência de seus autores dispensa qqer ratificação.

Parabéns por saber transmitir a nós com tamanha peculiaridade a sua paixão e admiração por essa louvável doutora!!!

Bjs.