18 julho 2008

SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO FILOSÓFICA DOS MEUS MELHORES DEFEITOS

[republicar]

Já confessei aqui o (mau)hábito de comentar as coisas que leio. Desta vez, pra poupar o povo dos meus achismos sobre Nietzsche, resolvi só escrever:

Do meu ar blasé:
"Um espiríto livre... assim se vive, não mais nos grilhões de amor e ódio, sem SIM, sem NÃO,voluntariamente próximo, voluntariamente longe, de preferência escapando, evitando, esvoaçando, outra vez além, novamente para o alto... "

Da minha invencível credulidade:
"De fato, uma fé cega na bondade da natureza humana, uma espécie de pudor frente à nudez da alma podem realmente ser mais desejáveis para a felicidade geral do homem... e talvez a crença no bem tenha tornado os homens melhores, na medida em que os tornou menos desconfiados..."

Das reincidentes crises existenciais:
"É mais difícil afirmar a personalidade sem hesitação e sem obscuridade do que dela se liberar...além disso, requer muito mais espírito e reflexão."

Dos extremos da minha sinceridade:
"A mentira exige invenção, dissimulação e memória... quem conta uma mentira raramente nota o fardo que assume, pois para sustentar uma mentira ele tem que inventar outras vinte."

Da incompetência emocional:
"Por que superestimamos o amor em detrimento da justiça e dizemos dele as coisas mais belas, como se fosse algo muito superior a ela? Não será ele visivelmente mais estúpido?"

Dos subterfúgios do vacabulário:
"Escritores que não sabem dar clareza as suas idéias preferirão os termos superlativos mais fortes: o que produz o efeito semelhante à luz de artoches em emaranhados caminhos da floresta."

Da tolerância sorridente (e pedante tsc):
"Muitas ações são chamadas de más e são apenas estúpidas, porque o grau de inteligência que se decidiu por elas era bastante baixo."

Dos gostos discutíveis:
"A mais nobre espécie de beleza é aquela que não arrebata de vez... mas que lentamente se infiltra, a que levamos conosco quase sem perceber."

Da febre de sentir:
"Quem já escreveu e sente em si a paixão de escrever quase que só aprende, de tudo o que faz e vive, aquilo que é literalmente comunicável."

Da indolência habitual:
"Quando se é alguma coisa não é preciso fazer nada - e costuma-se fazer muito. Acima do homem produtivo há uma espécie mais elevada."

[/republicar]

N.A.: um leitor mais atento sugeriu na época um outro tópico, "textos truncados". Segue íntegra do comment:

Anônimo
20/10/06 13:53

Eu já te leio há bastante tempo. Não comento sei lá pq, fico sem jeito... sou naturalmente invasivo. Mas hj que falou do Nietzsche não tem como. rsrs Entre os seus defeitos (que eu acho uma delícia) vc esqueceu de citar os "textos truncados", a respeito dos quais ele tb falou no livro:"o vago é necessário pra tornar distinto"

Termino com um recorte que tá me queimando por dentro:
- Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia, disse Nietzche.
- Como assim, não oferecer companhia?
- Por não prezarem as coisas que prezo! Às vezes enxergo tão profudamente a vida que, de repente, olho ao redor e vejo que ninguém me acompanhou e que meu único companheiro é o tempo.
bjs, MAX

4 comentários:

Jana disse...

tá são 8:30 da manhã e eu ando assim naqueles dias (que vc entende) então tenho que pensar o que te dizer antes de dizer qualquer merda!
rs

Beijo

Talita Corrêa disse...

Da tolerância sorridente (e pedante tsc):
"Muitas ações são chamadas de más e são apenas estúpidas, porque o grau de inteligência que se decidiu por elas era bastante baixo."

Adorei
Bjs

Anônimo disse...

é bom quando a gente descobre que outras pessoas nos descrevem tão bem. nietzsche tem esse dom, de descrever o indescritível. bjs.

Thiago Augusto" disse...

Aplaudo de pé:

"A mentira exige invenção, dissimulação e memória... quem conta uma mentira raramente nota o fardo que assume, pois para sustentar uma mentira ele tem que inventar outras vinte."

Odeio mentira. :|