30 agosto 2007

POR GENTE REAL NO MUNDO VIRTUAL

Viram né, pessoas? Eu, e Jana, de novo, deixando comments e scraps indigestos por conta de cópias descaradas dos nossos rabiscos... rs

Dani já falou brilhantemente sobre isso, várias pessoas já falaram, mas eu preciso dizer tb: neguim n-ã-o-s-a-b-e ter liberdade. Mais que abusa, não sabe mesmo o que fazer com ela. Dai que no mundo, real e virtual, acontecem coisas sórdidas e a gente ainda se assusta! Simples assim: falta limite, igualzinho quando a gente é criança e precisa de alguém pra podar nossas asinhas.

Só pra ilustrar: de curiosidade, depois de receber os próprios textos por e-mail, sem menção alguma, Dani buscou no orkut e os achou em 188 perfis. Sabe quantos davam os devidos créditos? 3. Míseros e esperançosos 3.

Mô foi me deixar um scrap de feliz aniversário e se deparou com um recorte de um texto dela, num outro scrap que outra amiga minha - que não faz a mais vaga idéia da sua existência,oficorsi - me deixou cheia de amor e carinho.

Se fosse só plágio menos mal, a gente ia lá, deixava uns recados, avisava os amigos, eles iam também (que nessa hora todos são over solidários) e pronto. Menos um fotolog piscante no mundo. Menos um blog meia boca... foda é que esses seres são como rabo de lagartixa: cortou, nasce de novo, ad eternum. Ressucitam em novos templates e mudam a "fonte de inspiração", quando muito. Mas enfim, até que alguém inventasse um código anti copy eficiente, a gente ia levando, contando com gente como Bia, que lê a Jana e reconheceu os textos dessa vez.

Mas não é só plágio!!! Na brecha que o anonimato abre pras pessoas sem luz própria, se entrincheiram as maiores sandices. Coisa de gente pequena, má mesmo. Infeliz, certamente. Coisas em que, na minha incurável polianice, só acredito pq vejo. Vejo e lamento com força, pq a net só me trouxe gente do bem, seja por blog, msn ou orkut. Foram pontes e agora são meios de comunicação. Encurtam distâncias e é só pra isso que deviam servir.

Não é irônico, pra não dizer patético, um país que viveu anos de chumbo e que hoje tem ampla e irrestrita liberdade de expressão fazer uso tão leviano de um direito adquirido a custa de perdas irreparáveis? Seria a eterna desconfiança o preço do prazer(?) de ser/fazer/escrever o que quiser?

Pra quem ainda não se deu conta: entre os que acham divertido se passar por outra pessoa em chats e blogs, os que gastam horas e horas pinçando dos outros as coisas que gostaria de dizer, os que mantém fakes no orkut, os que estão achando esse texto tão exagerado quanto a autora e o hacker que talvez um dia lhes raspe os cobres da conta bancária há pelo menos uma coisa em comum: o confortável e diabólico senso de impunidade. Ladrões, todos eles, começam do mesmo jeito: se apoderando de pequenas coisas alheias...

29 agosto 2007

PERTENCER

... Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso...

Bingo Clarice! Passei esses anos todos sem saber, mas ciente da minha pobreza, me acostumei a pedir pouco já prevendo não ter o que oferecer no caso de alguém precisar.

Pedir pouco. Esperar pouco. Desejar pouco. Sonhar pouco. Precaução dos infernos! Só pode mesmo ser capetice uma alma habitualmente perdulária ser capaz de tanta avareza emocional. Sim, pq por aqui - no nível anterior às atitudes - tudo é extremado. As coisas mais bestas me levariam às lágrimas, se chorar fosse um sentimento sem correspondentes físicos visíveis, se fosse um movimento inverso, de fora pra dentro, sabe como?

Dai que emoções reincidentemente solitárias padecem de sentido. (e é de propósito que não troquei por carecem, pois qdo só carece, a falta dói menos, parece.) O tempo e a incapacidade de partilhar acabará por torna-las patéticas. MEDO

Mas meu instinto de pertença é tão nato... e - como o de Clarice - se alimenta da minha própria força: preciso pertencer para que ela não me seja inútil, para que fortifique as coisas e pessoas que me cercam.

27 agosto 2007

SETE COISAS SOBRE MIM

Jana me passou isso na semana passada e, pelo menos mentalmente, achei impossível escolher SÓ sete coisas. (sim, meu narcisismo está ficando indisfarçável já...rs) E ainda precisavam ser coisas publicáveis e não muito óbvias, que é pra não decepcionar os gatos pingados que vem aki.

Enton, depois de uma tarde inteira de frente ao bloco de notas - em branco - e várias janelinhas verdes piscando na tela, depois de deletar parágrafos inteiros, eis o resultado: (não achava mesmo que ia ser tão difícil!)

1 - Minha mãe ensinou e - mesmo sentindo na pele que é só mais uma mentira de mãe - lá no fundo eu acredito que quem fala a verdade não merece castigo. Lamento mesmo isso não valer pra adultos. A verdade desarma, que eu já vi isso acontecer. Pq mais gente não acredita nisso, caraleos?

2 - Além de caipira eu também devo ser cafona. Simplesmente não sei me vestir para alguns eventos. Não sei e nem quero aprender, bem entendido. Brilhos, decotes, longos e bla bla bla não me caem bem, definitivamente. (mas isso se percebe fácil, o que queria confessar mesmo é que eu deixo de ir a lugares que me exijam super-produções)

3 - Nem sempre consigo acompanhar os diálogos dos filmes legendados kakakaka e esse é só um dos motivos pra eu precisar de cia. pra assisti-los. (piada interna)

4 - Tenho deliberada má vontade com homem mimado. Filhinhos-da-mamãe, queridinhos-da-titia, netinhos-preferidos-da-vovó, irmãozinho-caçula, protegido-da-professora, namorado-perfeitinho enfim... todas as variantes de homem excessivamente paparicado (pra naum dizer mandado) por mulher. Certeza de que são elas, bem-intencionadas ou não, que estragam a raça. tsc

5 - Gosto de observar os passantes, se forem estranhos enton, melhor ainda. (publico isso qualquer dia, prometo)

6 - Gentileza me comove, mais do que isso, me idiotiza. Se pedirem com jeitinho, me levam até a roupa do corpo.

7- Queria muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito, mas queria com força, saber tocar guitarra e bateria.

Bem, tem que passar pra frente né? No geral deixo por conta de quem lê: quem quiser, que fique a vontade. Maaaaaans dessa vez, tô dividindo com Ronaldo, Dri e Bruno e Candice.

24 agosto 2007

FÉ & RAZÃO

Duas piadinhas veeeeeeeeeelhas, mas cheias de verdade:

Jesus Cristo resolveu voltar a Terra... E decidiu vir vestido de médico! Procurou um lugar para descer, escolheu no Brasil um posto do SUS. Viu um médico trabalhando há muitas horas e morrendo de cansaço. Jesus então entrou de jaleco, passando pela fila de pacientes no corredor, até atingir o consultório.

Os pacientes viram e falaram:

- Olha aí, vai trocar o plantão.


Jesus Cristo entrou na sala e falou para o colega que podia ir, que ele iria tocar o ambulatório dali por diante. E, todo resoluto, gritou:

- O PRÓXIMO.


Entrou no consultório um homem paraplégico em sua cadeira de rodas. Jesus Cristo levantou-se, olhou bem para o aleijado, e com a palma da mão direita sobre a cabeça disse:

- LEVANTA-TE E ANDA!


O homem levantou-se, andou e saiu do consultório empurrando a própria cadeira de rodas. Quando chegou ao corredor, o próximo da fila perguntou:

- E aí, como é esse Doutor novo?


Ele respondeu:

- Igualzinho aos outros... Nem examina a gente!


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E lá ia o sujeito atravessando a ferrovia quando, de repente, seu pé fica preso no vão de um dos trilhos. Gemendo de dor, ele vira daqui, torce dali e nada do pé se soltar. Nisso ele ouve o apito de um trem se aproximando.

- Ai, Meu Deus! Me ajude! - diz ele, apavorado.

Puxa o pé com toda força e... nada! E ouve outra vez o apito.

- Meu Deus, por favor! - pede ele, com os olhos lacrimejantes.

- Me ajude a tirar o meu pé que eu prometo que vou na missa todos os domingos.

Puxa de novo e nada! E o trem apita, novamente, cada vez mais próximo.

- Por favor, Senhor! Se Você me ajudar a me livrar dessa, prometo que nunca mais vou colocar uma gota de álcool na boca!

Força mais um pouco e nada do pé sair! Agora, além do apito, ele já podia sentir o trilho tremendo. Desesperado, começou a berrar:

- Senhor! Por favor! Me ajude e eu prometo que nunca mais vou transar com ninguém!

De repente, ele puxa e o pé se solta. Segundos depois, o trem passa a toda velocidade.

- Ufa! - fez ele. E levantando a cabeça:

- Deus, não precisa mais se preocupar, eu consegui me soltar sozinho!

Qual das duas é + a tua cara? Eu sou, sem dúvidas, o sujeito da linha de trem. Gosto do Papai do Céu, Ele é meu amigo de verdade (mto foda ter um amigo que pode-tudo!!) mas eu sou podre de auto-suficiente. Além de não saber pedir ajuda, não admito nem pro meu espelho que nem sempre posso resolver tudo sozinha. Adoro ter controle sobre as situações, sempre saber o que fazer e o que dizer, manter equilíbrio quando o mundo tá caindo na cabeça de alguém ou até na minha mesmo... mas a habilidade-mor que desenvolvi com isso foi passar pelas crises - renais, menstruais, sentimentais, espirituais, existenciais - praticamente s/ que ninguém percebesse. Sempre fui assim. Mas de uns tempos pra cá, antes tarde do que nunca, estou enxergando que é mto bom sim resistir em silêncio*, mas que silêncio só é virtude quando não mascara outros vícios.

*na íntegra: Quanto mais se resiste em silêncio, menos se sente o mal Edith Stein, judia, doutora em filosofia e uma das muitas vítimas de Auschwitz, em "Perder para Ganhar".

21 agosto 2007

Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”

Ah, Clarice... exata!

20 agosto 2007

TIME OUT

Querido Diário,

Não sou eu quem vive dizendo que não sou uma idiota completa pq ninguém é perfeito? Pois eis que me supero de novo: sou sim. Idiota. Completa e perfeita.

Ontem finalmente enxerguei a verdade que me estapeou a cara esse tempo todo e eu - só eu - não via: ele é M A L!!!! Não é o jeito tosco, não é egoísmo, não é preguiça, não é canhestrice. É maldade. Pura, simples e das menos maquiadas. E das mais gratuitas tb.

Foi de maldade que me deixou falar sozinha. Ele E S C O L H E o pior jeito de agir, o que mais me machuca. É de chorar num cantinho parar pra pensar nos motivos que teria pra me fazer isso, assim, sempre e tão impunemente... e dessa vez não quero saber o pq. Me abstenho de tentar entender. Certas coisas são assim pq sim, e eu tenho que aprender a me conformar com isso.

"Não me peça mais do que não estou disposto a dar. Eu sempre fui assim".

Eu merecia ouvir isso?
De onde foi que tirei que companhia se esmola dessa forma?
Que tipo de caricatura confundi com amizade, essa face tão linda do amor?
Que será que me falta de tão urgente a pto de precisar dessas migalhas?

Ele me fez chorar. Pela primeira e última vez.

Ele é importante e eu não sabia o qto. É, mas vai deixar de ser. E me empenharei nisso c/ a msm cuidado que darei à essa pereba nojenta que me nasceu durante a noite. O que a gente usa pra herpes, hein? Herpes... taquipariu!!!!

N.A: aprendiz de superego está proibido de me zoar essa versão teen dos meus rabiscos... estou ciente do qto é patética. Mas é assim msmo que me sinto: patética. Uma menininha boba e melindrosa. E esse foi o jeito que encontrei pra lidar com uma dor que não me é familiar: um misto de indignação, decepção e coitadice. (merda... coitadice! Não tem outro nome. Coitada dessa criatura. Essa miopia voluntária ainda vai fuder contigo, sua tonta.)

19 agosto 2007

A FLOR DA PELE

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz chorar
E que me salta os olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz implorar
O que não tem medida nem nunca terá
O que não tem remédio nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será, que dá dentro da gente que não devia
Que desconcerta a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso nem nunca terá
O que não tem cansaço nem nunca terá, o que não tem limite
O que será que me dá, que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vem agitar
Que todos os ardores me vem atiçar
Que todos os suores me vem encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a chamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá, o que não tem juízo*

* Chico Buarque

16 agosto 2007

OURO DE TOLO


Se eu morresse hj de um repentino mal deixaria dívidas irresgatáveis: todo o amor que não dei. Pobres credores! Teriam que se contentar com meu íntimo tesouro, cinestesicamente incalculável, e de nenhum valor comercial. rs

As músicas que sonorizaram meus bons momentos - e alguns ruins, tb - e disseram tudo que por culpa ou dolo não disse em tempo hábil e acabou por perder-se na brisa mansa do "qualquer dia desses";

Os livros que edificaram ou implodiram, me deixando, impunemente, em eterna construção... páginas que salvaram dias e noites da inutilidade completa. A quem interessar possa, os mais grifados são os de maior potencial belicoso;

Os óculos escuros, cada vez maiores, que zelaram pela minha fotofobia e incontáveis vezes esconderam o que havia de triste nos meus olhos. Os primeiros eram mágicos: me tornavam invisível. Com eles pude sumir, confortável e despercebida, algumas das vezes que mais precisei. Meus fones de ouvido as vezes tb me parecem encantados, permitindo continuar sozinha em meio a uma multidão;

As minhas dúvidas, que descobri em tempo que são as certezas que nos fodem a vida. Quando se tem perguntas a fazer, a gente caminha mais atento, se interessando por tudo e todos, tdas as opções são válidas. Enquanto (algumas) respostas nos estacionam. Qto mais completas, mais perigosas;

A febre de sentir que me move a escrever e por conta disso trouxe tanta gente do bem. Afinidades inexplicáveis (que aliás, merecem outro texto) que me permitem tocar com as duas mãos o delicado da vida e provam pra quem duvida que coicidências não existem, definitivamente;

A perfeição dos meus sentidos: todos os toques, aromas, sons, gostos e imagens que me instigaram, me fizeram mais viva, mais humana e por isso mesmo quase divina... e falando em divina, no Céu, onde espero ter sossego, um corpo e uma alma hão de me bastar. E talvez ainda carregue algumas das minhas grandes pequenezas, mas não sei se elas me são tão caras quanto aki. Tomara que sim.

Lá minha saudade vai parar de arder. Ou não, pois daí terei saudade de outras pessoas. Verei respondidas todas as questões que me roubaram o sono. Finalmente conhecerei como sou conhecida e me consumarei, como as velas do altar, no AMOR de brilho raro que dá sentido aos meus passos vacilantes.

* Inevitavelmente inspirado em "A Máquina de Escrever", de Roberto Frejat, Guto Goffi & Guioseppe Ghiaroni

14 agosto 2007

A MINHA GRATIDÃO É UMA PESSOA...

A-l-g-u-m-a-s pessoas, manda a verdade que se diga. Várias, considerando os que a vida já levou. (e os que ainda não trouxe, pq não?)

Aquelas capazes de uma sensibilidade rara, lampejos de uma lucidez que me acorde pra vida... aquelas de alma nobre que me ensinam no seu silêncio e principalmente com a coerência entre o que fazem, falam e acreditam, que isso é uma das coisas que mais persigo nessa minha vida.

Felizmente vivo esbarrando com essas preciosidades. E, mais felizmente ainda, alheias à minha canhestrice, elas seguem me comovendo. rs Nem imaginam, mas as vezes dá vontade de chorar num cantinho, pelo bem que me fazem, assim, despretenciosamente.

12 agosto 2007



O que você faz à noite, depois do fim da festa
Quando nada mais lhe resta, ninguém mais presta atenção?
Que que você faz depois do fim da festa, a febre se manifesta e o corpo implora proteção...
Que que você faz quando um bar parece um barco e a cidade um oceano?

Que que você faz se nenhuma escolha parece certa e toda descoberta é um plano?
À noite - você é o que faz se você faz o que quer - à noite *


* Dé, Frejat & Humberto Gessinger
Neguinha perde a linha sexta e sábado, dá mó balão em Dri, bebe por si e por mais uns 3... coitada, inda tá achando que tem 15 anos... kakakaka Mas ó, convenhamos, antes ressaca física do que moral! (e, sim, tri, vários brindes ao delicado da vida \o/)

10 agosto 2007

DOS 30


Perceba que aquela mulher não fica mais chorando pelos cantos, sentada no escuro, ouvindo músicas comoventes para acelerar o pranto. Ela provou a si mesma que era capaz de converter sonho em realidade. Ela viu que poderia alcançar o amor e retê-lo. Depois de retê-lo, cozinhá-lo para que devagar, pudesse degustá-lo em seus lábios sedentos por açúcar.

Note que essa mulher já correu florestas, escalou montanhas, percorreu vales e sombras, nadou por oceanos inteiros, atravessou desertos e engoliu um rio caudaloso, até deitar na sombra de uma árvore. Lá ela pôde, enfim, descansar seu corpo da boa batalha enquanto gerava sua semente delicadamente escolhida.

Saiba que aquela mulher já teve vida suficiente para decifrar as esfinges das pessoas. Enxerga o coração nos olhos, a mente na boca, as intenções no movimento das mãos e a alma na cadência da respiração. Hoje já não perde tanto tempo com isso. Desfruta o ouro dos poucos.

Atente para o fato de que essa mulher já tem a carne batida pelo tempo e a pele um pouco ressecada do sol que ela tenta evitar. O sorriso ingênuo e aberto de outrora começa a perder um pouco a espontaneidade. Os olhos dela já não dançam naquele ritmo alucinado. Eles param de tempos em tempos quando querem ficar à deriva.

Veja que aquela mulher nem sempre sabe o que quer. Acha que nunca soube, e tem certeza que o que sabe, conquista. Ela aprendeu que pode mudar de desejo conforme o vento. Entendeu que alguns desejos não são fortes o bastante que a façam desistir do mais importante para alcançá-los. Enxuga as lágrimas e segue.

Escute que ela sabe do peso que carrega nos ombros e da magnitude daquilo que precisa empurrar no percurso dessa estrada, que ela espera ser longa de seguir. Não sabe quantos atalhos terá que pegar, ou quantas curvas derrapantes vai encontrar. Só está certa de que o amor escorrerá em tudo aquilo que construir.
Desde de que li essa preciosidade, qdo dos 30 anos da autora, tive certeza que era isso que queria postar qdo chegasse a minha vez. E cá estou, nas entrelinhas de cada parágrafo. Negritada em frases que até poderiam ser minhas, se tivesse talento.

08 agosto 2007

EU TIVE UM SONHO. VOU TE CONTAR...

Não, eu não me atirava do 8º andar, mas as ondas que iam me engolir deviam ser mais ou menos dessa altura msm. Monstras. Tsunamis. Mto condizente com o exagero incurável da criatura que sonha e vos escreve.

Na verdade foi sonho do sonho. Sabe qdo tu tem noção que está sonhando e vira um expectador? Enton, isso aê. Lá estava eu entre duas ondas colossais e naquela consciência de desenho animado: "ninguém morre no final". Pensei em fechar os olhos, mas achei tão bonita aquela imagem das ondas, assim, uma de frente pra outra e ambas se quebrando sobre mim... lembrei que nos desenhos sempre acontece algo besta pra coisa deixar de ser trágica... poizé, dai que minhas ondas de Itu viraram balões infláveis. Cor laranja. Bem vivo.

N.A: Tô fazendo questão de registrar isso pq tô cabreira: quase nunca me lembro dos meus sonhos. E olha que no geral eles são até bem intensos, com bônus de taquicardia, suor, tremos e tals. Mas é raro conseguir conta-los no outro dia. Isso de ter consciência que é apenas um sonho até que não é novidade, mas lembrar de tudo, depois de dias? INÉDITO. Tô me lembrando tds os detalhes desde a manhã de quarta feira passada.

- Aê quem saca de sonhos, teriam algo a me dizer? Deixem suas teses ali na caixinha de comments, pufavô!

06 agosto 2007

Benditas Coisas Que Eu Não Sei...

... Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas
A vida é curta mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma*

* Mart´nalia & Zelia Duncan
Sim, benditas. Esse "não saber" há de me fazer bem. Há de me ensinar mto, há de me virar do avesso... e qdo essa porra tda passar (sim, há de passar!) serei uma pessoa melhor. A M É M
* Eu tenho que acreditar nisso pra não enlouquecer de vez!!!*

05 agosto 2007


Berna, 2 de janeiro de 1947

Querida, Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perde o respeito a si mesma e o respeito às suas próprias necessidades - depois disso fica-se um pouco um trapo.

Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar e contar experiências minhas e dos outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos leva de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar. Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. Espero que no navio que me leve de volta, só a idéia de ver você e de retomar um pouco minha vida - que não era maravilhosa mas era uma vida - eu me transforme inteiramente.

Uma amiga, um dia, encheu-se de coragem, como ela disse e me perguntou: "Você era muito diferente, não era?". Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinqüenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus. Não haveria necessidade de lhe dizer, então. Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você mesma uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver.

Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia será punida e irá para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Isso seria uma lição para mim. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade de alma.
Tua Clarice
PS.: Em 95, o escritor Caio Fernando Abreu, então colunista do jornal O Estado de São Paulo, publicou uma carta que teria sido escrita por Clarice Lispector a uma amiga brasileira. Ele comenta, no artigo, que não há nada que comprove sua autenticidade, a não ser o estilo-não estilo de escrita de Clarice Lispector. Ele dizia: "A beleza e o conteúdo de humanidade que a carta contém valem a pena a publicação..."
* Me sentei aki na mó febre de sentir, mas depois de ler uma coisa dessas c-a-d-ê palavras minhas? Nada mais a ser dito, por hj *

01 agosto 2007

ATÉ QUANDO

Até quando!!!
Até quando...
Até quando?
Até quando.

Eu gosto. Esse não saber instiga. Instiga e me dá a exata medida do descompromisso que temos. (que coisa mais estranha passar a vida procurando e se abster de encontrar! Dói menos quando penso que vc me entende. E se não entende, poderia. Aliás, a começar por mim, as pessoas poderiam mto mais se prestassem mais atenção!)

Ah, como eu lamento a intimidade que nos falta! Pq msmo - voluntariamente - distante, vc é um dos poucos que chega tão perto de quem sou. Somos tão parecidos, amigo, avalio o qto seria divertido se vc soubesse!!

Será que preciso explicar? Alguns nuances emocionais homens não captam... (como certos tons, que reza a lenda que não enxergam!) Enfim, não sei quem é vc. Como saberia os verbos pra te acionar? O que sei é pouco pra minha curiosidade renitente, mas bem preciso: é gratidão o que sinto. Misturado a vários outros - mansos e ferozes - sentimentos mas essencialmente gratidão: por não fazer perguntas, por nunca me pedir pra ficar, por não esperar mais do que posso dar...

Até quando?

Não importa. Acho que só faria diferença se a resposta fosse nunca mais.