29 outubro 2008

SOBRA TANTA FALTA!

fera, bicho, anjo e mulher;
pedra, flor e espinho;
inquieta, áspera e desesperançada;

janela do quarto, janela do carro, tela e janela;

vinho, virtude e poesia;
cor, tom, sabor e som;
luz das estrelas, a cor do luar, as coisas da vida e o medo de amar;
louça, éter, loucura, cenário e atriz;

mão (e um pouquinho do braço!), mentiras sinceras e pequenas poções de ilusão;
sombras, sobras, cobras e escombros;

espada, escudo, forma e conteúdo;

hortelã, alecrim e jasmim;

hóspede do tempo, inquilina da vida, da minha casa, das minhas palavras e das coisas que declaro minhas
...


Tanto e tão pouco! Tudo isso e ainda falta tanto espaço dentro dos meus abraços! tsc

Socorro, alguém me dê um coração...


Que esse já não bate nem apanha... rs

24 outubro 2008

CAPETICES DO MERCADO FINANCEIRO

Reza a lenda que a tal crise financeira vai acabar afetando até o vendedor de balas da porta do colégio. E eu não duvido. (aliás, não duvido de mais nada nesta vida!) Reza a lenda tb que esse banzé mundial atende por um nome: mercado derivativo. Alguém chamou de 'arma de destruição em massa'.

Eu, claro, não sei explicar direito, mas faço uma vaga idéia do que vem a ser a coisa: mais uma daquelas boas intenções das quais o inferno tá cheio! Num esforço mostruoso, huguinho, zezinho e luisinho se lembraram lááááá do tempo da faculdade (em que eu mui solidariamente ajudava meu coleguinha de quarto a estudar pras provas de Macro!) que derivativos protegem as empresas das variações cambiais. Assim ó: dois investidores fecham um contrato onde um paga ao outro toda a variação do dólar que houver no período. Em troca, recebe os juros acumulados.

Bom né? S-e-r-i-a se dinheiro não fosse coisa do cão e se os homens não tivessem os olhos maiores que a cara: numa operação meio fraudulenta mas absolutamente lícita, os caras firmam contratos bem acima do que estimam receber no futuro, especulando uma queda no câmbio. Pois bem, como umas das definições de especular é tirar proveito, abusando da boa fé ou da credulidade de outrem e como Deus - ao contrário de Murphy - cochila, mas não dorme, eis que ocorre o inverso e o dólar dispara. Nessa brincadeira o Grupo Votorantim, por ex, perdeu mais de R$ 2,2 bi.

Desenhando, pq tenho consciência de que meus conhecimentos no assunto são medíocres:

fonte: Diário do Vale On Line

Dai que eu fico cá pensando: se essa coisa de precognição fosse tão possível quanto afirmam paranormais, cartomantes, videntes e correlatos, não precisava estudar tanto pra especular ser analista financeiro. Era só montar uma consultoria mística pras coisas voltarem pros seus eixos e o vendedor de balas da porta do colégio não ter sua vida afetada pela ganância de gente que ele nunca vai ver.

ET.: tardiamente os governos se preparam para melhor regulamentar o mercado de derivativos. Interessante como em qualquer lugar do globo terrestre precisa acontecer uma coisa séria pras pessoas se moverem, não?

21 outubro 2008

CARPINTEIRO DO UNIVERSO

Dia desses terminei de ler um livro ótemo. Sobre três mulheres absolutamente diferentes. Em comum, aparentemente apenas XX ... ainda assim me identifiquei com todas. rs (Sushi, Marian Keyes. A quem interessar...)

Em uma vi meu autoritarismo disfarçado de competência. O quanto seria fácil fazer dos outros uma extensão dos meus domínios, o quintal de casa. Na outra vi o quanto ando de saco cheio e como a gente pode fazer merda quando está de saco cheio... rs Mas só com a última que a empatia foi total: ela é uma fofa! Daquelas que - como eu - procura motivos que justifiquem as presepadas alheias e quase sempre se convence que tem uma parcela de culpa em tudo que (não) acontece.

A mocinha do livro foi apelidada pelo chefe de Senhorita Quebra Galho! Não é triste? Ela tinha uma bolsa enorme, cheia de coisas que ela mesma nem usava, mas deixava lá pro caso de alguém precisar. Dai que fiz várias associações e mesmo sem ter bolsas enormes nem precisei pensar muito pra constatar que tb carrego muiiiiiita tralha...

Não sei por que nasci pra querer ajudar, a querer consertar o que não pode ser...
Não sei pois nasci para isso e aquilo e o inguiço de tanto querer.

Estou sempre pensando em aparar o cabelo de alguém.
E sempre tentando mudar a direção do trem.
À noite a luz do meu quarto eu não quero apagar,
Pra que você não tropece na escada, quando chegar.

O meu egoismo é tão egoísta que o auge do meu egoismo é querer ajudar.
Mas não sei por que nasci pra querer ajudar, a querer consertar o que não pode ser...
Não sei pois nasci para isso e aquilo e o inguiço de tanto querer

Carpinteiro do universo inteiro eu sou... Ah eu sou assim!
No final, carpinteiro de mim!
* Raul Seixas

Saber que sou assim já não é nada bom, mas me ver sendo sistematicamente sacaneada até o último capítulo (de um livro de 569 pags!) me obriga a fazer alguma coisa! A mocinha jogou no mar a sua giga bolsa... e eu, tipo pra ritualizar minha decisão, vou deletar todos os filmes que estão entulhando meu HD! (eles só estão lá pela remota possibilidade de alguém querer assistir, pq eu já vi todos!)

14 outubro 2008

TODAS ELAS JUNTAS (E CONFUSAS!) NUM SÓ SER...


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa


10 outubro 2008

O DIA DO PRATO

Depois de:
19 meses de querência;
1 momento de fraqueza (e toda a culpa decorrente);
7 meses de heróica resistência;
1 prévia pra lá de instigante:
tecla F, que eu não sou de ferroooooooo!


Te faço uma canção tão antiga e tão bonita
Não tem queixa nem ferida
É proteção pra toda a vida
Porque você entende meus sonhos
Teu sexo tem o gosto que eu gosto
Tua boca, carne, tua saliva
Faz a minha carne mais viva
Então eu faço esse carinho e assim fico menos sozinho
Meu coração não chora mais na ponta de qualquer espinho
Não tenha medo do futuro, do escuro ou da hora de acordar
Dorme em paz, amor, o tempo que a minha canção soar
E não deixe de sonhar com o possível e o impossível
No amor é quase sempre assim: tudo imprevisível!!!
*Roberto Frejat

01 outubro 2008

IRA

abre parênteses: eu não disse, mas aquele inferno astral narrado abaixo foi acompanhado de um mutismo que durou uns 5 dias. Eu só me dei conta que era pura TPM qdo sinhá me mandou à padaria - coisa que faço religiosamente, todos os dias, exceto os de chuva - e eu chorei lágrimas corrosivas. Eu sou assim, só percebo o motim hormonal quando acontece alguma coisa patética... ai eu morro de rir e volto a ser eu mesma. Mas esse mês, dadas as coisas chatas que foram se acumulando na mesma semana, Deus precisou intervir e mandar um paliativo....rs Dai que com a minha lucidez de volta, formulei uma tese. Me digam se vcs acham que procede, sim? fecha parênteses

Não tenho orgulho algum em afirmar isso, mas é o sentimento com menor espaço dentro de mim. Explico: acessos de uma fúria justificada e bem direcionada são verdadeiros exorcismos! Vc sai de si por dois minutos (não mais que isso, que não estou sugerindo um AVC!) pra mais tarde não perder horas numa angústia sem nenhum motivo razoável, se perguntando "o que eu tenho?". Já que imerecidamente - ou não - mulher tem fama de xiliquenta, acho que a gente devia mais é deitar na cama e gozar os efeitos terapêuticos do estigma... hohoho

Olhando para o meu passado de bom-mocismo (meus momentos descontrol são tão poucos que me lembro de todos!) a pergunta da vez é: se eu tivesse cuspido mais abelhas, será que hoje eu saberia o que se passa comigo? Aliás, será que eu estaria, assim, meio-autista-meio-autômata, me perguntando idiotamente em que pedaço do caminho eu escolhi essa vida? Uma boa questão...

Fiquei pensando onde foram parar os meus sapos engolidos com inglesa resignação e constato, agradecida, que eles não se transformaram em gastrites e outros correlatos psicossomáticos... mas por uma questão de sobrevivência num mundo cada dia mais hipocondríaco, capetices desse gênero bem como as outras doenças também precisam se reinventar. Dai que desconfio que meu pecado capital inconfesso por anos a fio tem por estratégia a camuflagem: como a minha ira percebeu que por aki o poder de auto controle tende ao infinito, consultou seu exemplar de "A Arte da Guerra" e, mais ciente do que nunca que a superioridade numérica isolada não lhe daria vantagem alguma (“dividir para conquistar”, sacam?), resolveu diluir-se em sentimentos mais brandos e socialmente aceitos: frustração, preguiça, cansaço e outras chatices absolutamente normais e perdoáveis. Pq a gente sabe que às vezes precisa fazer vistas grossas à indisciplina de nossa tropa, né? Nessa pequena relaxada, Ira-Versão-Cavalo-de-Tróia se instala, insuspeita, e se faz responsável direta por aquela angústia de mierda que falei acima. É só uma tese, mas pra mim faz mó sentido. (Agora que parei pra prestar atenção, percebo que muito do meu humor cítrico nada tem a ver com estilo: sou sempre tão engraçadinha pra não babar uma espuma branca mui familiar a todos: ou se previne com anti-rábica ou tem que sacrificar!)

Ira é tão tóxica que se não for expurgada até anestesia a gente! Tipo cocaína na ponta da língua, tipo alguns venenos: adormece. Adormece e a gente nem percebe que está ficando cada dia mais inerte, não movendo um músculo por uma boa causa. Certeza que entre gente sarcástica demais, exagerada demais, dramática demais, pessimista demais... há alguém espumando, agonizante. E convenhamos, agonizar sem saber exatamente do que é de um ridículo sem tamanho, não?

Tá. Mas e agora José, qual o remédio, já que ira continuará sendo haran e mandando os infiéis para arderem no mármore do inferno?

Enton, a posologia depende do paciente. No geral a quantidade é proporcional ao peso do sujeito... no meu caso, nos meus irrisórios 38 kgs, penso que assertividade uns 3 tons acima do meu habitual resolva. Dependendo da reincidência (ou do nome) do motivo, um objeto voador lançado com força e sem culpa talvez funcione como catalisador... mas isso, claro, só no caso de uma crise.

As doses de manutenção deverão ser ministradas apenasmente quando vc for agredida e não quando se sentir agredida, já que um sintoma característico de Ira-Versão-Cavalo-de-Tróia é o permanente sentimento de injustiça/incompreensão.

Devidamente desintoxicado, a tendência do organismo é produzir um tipo de humor sutil e resistente (ao qual os antigos chamavam de Paciência de Jó), que exerce função de anti corpo contra as epidemias deste mundo cão.