22 agosto 2010

RODA VIVA

Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade... Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.

Caio F.

Pq tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu... tsc

08 agosto 2010

REENCARNAR É BOM! (sic!)

Para ler ao som de Boas Novas, Cazuza

Ivan Martins escreveu sobre isso em sua coluna da Época e eu fiquei dias pensando na coisa.

Demorei pra escrever pq precisava me livrar do bloqueio de publicar "reencarnar", já que não acredito nisso. NÃO ACREDITO! Acho que a doutrina kardecista é um mecanismo psicológico que ameniza a dor de consciência coletiva (é mais fácil acreditar que o homem que esmola na esquina está pagando um carma do que reformar a sociedade de modo a criar um espacinho pra ele) e ajuda a superar a dor da perda, quando quem morre é amado. Pra mim que acredito em cada linha do credo católico, é muito difícil considerar a possibilidade de que os homens se salvam por seus próprios méritos e têm mais de uma vida pra isso. Deus cochila mas não dorme! Não seria justo com os bonzinhos dar várias outras vidas pros mauzinhos se endireitarem.

Isso posto, já posso escrever "reencarnar" sem culpinha cristã e partir pro que eu realmente queria dizer:

Ivan acha que alguns períodos existenciais são tão bem delimitados que pode-se dizer que saimos de uma vida pra começar outra. (Sobre!)vivemos coisas que, de tão fortes, encerram um ciclo e dão início a outro. Eu chamava esses verões - ou invernos! - emocionais de muertes chiquitas, mas sem me atentar muito a quem morria de fato: se eu ou o evento que me tirou dos trilhos da normalidade.

Pois o texto me clareou as idéias. Quem morre sou eu a cada vez que mudo o suficiente pra não reconhecer quem vejo refletido no espelho, a cada vez que dou passos pra fora das grades que me encerram na mesmice das escolhas e achismos! Dai que não tem como pensar nessas coisas e não ser grata à vida que nos dá oportunidades pra viver um ano em segundos e sendo uma só, nos deixar evoluir como se fossem várias.

Fiz umas continhas e parece que estou na minha 4ª encarnação:

minha 1ª morte foi seguidinha à de meu pai. Dormi criança e acordei adulta. Quem compareceu ao velório foi outra pessoa, perdida mas serena. Em cacos mas conformada como um velho; 

a 2ª foi quando a beata que morava em mim descobriu que tanto céu quanto inferno se inauguram pra nós juntamente com a consciência e que já começamos a viver aqui na terra o que escolhermos pra eternidade, seja lá onde for; 

a 3ª foi relativamente recente, entrelinhada aqui no rascunho inclusive. Relutei até a morte, mas aprendi que transgredir é transcender. (ahan, ciente que isso é muito bonito de se dizer mas não de se fazer hohoho)

Quem vive hoje em mim ainda precisa aprender muito mais coisas, desaprender outras tantas, se livrar de velharias e exorcizar um ou dois fantasmas ... no presente momento anda treinando o desapego, buscando um meio termo razoável entre o que é correto e o que é bom. Se eu tiver que morrer por isso, que seja. Por enquanto, ♬ então vamos pra vidaaaaaa !!!! ♬

01 agosto 2010

SERNAMBETIBA, 2900

Para ler ao som de Caminhos do Coração, do Gonzaguinha.

Eu não sei quanto tempo a vida esteve especialmente empenhada em orquestrar nosso encontro mas não poderia deixar de registrar que o trabalho foi engenhoso: eu consigo sair cedo do trabalho numa sexta feira medonha de abafada sem precisar contar uma única mentira, mas pego meia pista na Baixada e só chego onde deveria estar com 40 min de atraso; Mo, que odeia o lugar onde eu deveria estar mas foi me buscar assim mesmo, diz que me esperou no máximo uns 5 min; seguimos para o lugar de onde esperaríamos Can sair a francesa para finalmente nos sentarmos na primeira mesa de canto vaga para matar a pauladas uma saudade de 3 anos de comprimento por 2800 KM de largura aproxidamente. Es-pe-ra-rí-a-mos, pq Can não só não precisou sair a francesa, como já estava a alguns passos da porta quando pudemos avistar seu sorriso-de-gato-da-Alice. Sintonia fina, minha gente! O resto é bobagem...

Pensar em tudo isso me dá um nó na garganta de gratidão, viu? Por absoluta falta de palavras repito o que já disse quando nos conhecemos: essas delicadezas da vida provam pra quem ainda duvida que felidade pode ser simples como um aperto de mão, que afinidade nada tem a ver com constância e que não há um só ser normal nessa blogsfera! 

Desta vez tagarelei horrores, me meti desavergonhadamente na vida(?) profissional de Can, que por sua vez marcou dia e mês para a 1ª aparição do meu mais novo fantasma. (preciso de um nome pra ele, aceito sugestões!) mas apesar de ter gastado tempo demais falando só de mim, a gente pôde constatar que o passar dos anos nos fez muito bem: 

O inferno & céu de todo dia que Mo admistrava ainda existe, mas o fardo agora tem só a metade do peso. (creio que até menos, pq o Rui tem as costas largas!);

Os moinhos de vento de Can tb existem, mas a vida real tem consumido a pobre de tal forma que falta alma - e corpo - pra voragens que não apresentem riscos iminentes. Se isso é bom de tudo eu realmente não sei pq seu coração don quixotesco não foi feito para os aspectos burocháticos da vida. (Sinta-se carinhosamente alfinetada, tri!)

E quanto a mim, peter pan só volta pra casa a noite, pra dormir. Durante o dia sou uma versão "corporativa" de mim mesma. Me tornei um mulherão, que aprendeu a consertar os próprios enguiços (e mandar pro ferro velho o que não tiver salvação!), pisar firme as linhas que estão nas palmas das mãos. Em contrapartida - que a vida só se dá pra quem se deu - agora me acabo atrás de qualquer sensação e nem sempre isso é bom do início ao fim. 

Já estaria do tamanho de meus merecimentos voltar pra casa com um sorriso besta e com a fala meio abaianada. Mas a vida tira com uma mão e dá com a outra, vcs não duvidem disso (o contrário tb é verdadeiro, como se pode ver no post abaixo!). Dai que a logística de Mo não permitiu que a gente fosse ao Morro da Urca, mas os amigos que foram me buscar me deram de presente um por de sol bem embaixo dele, com o Cristo Redentor abençoando de longe.

Um brinde, tri-amadas. Agora até o taxista sabe que somos irmãs \o/