28 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP V

MOMENTO VDM

Conhecem o
Vida de Merda?

É um twittão pra gente reclamona. A matéria que li dizia que o site foi criado pq quem só twitta derrota não tem muitos seguidores e os poucos que seguem zoam um monte... gentem, é melhor que pérolas do orkut! Eu me acabo de rir lá.

Pois bem, a trip teve seu momento VDM mas felizmente foi só no final, pra eu poder chorar na minha cama, único lugar quente & adequado: 

Depois de passar todos esses dias congelando no deserto, piso no Brasil e o primeiro e-mail que recebo é de cabeça de bacalhau dizendo que o fantasma que o assombra há 5 anos fez um BOO diferente. Assim mesmo: 4 linhas tanto objetivas quanto impessoais só pra deixar registrado para a posteridade que enquanto eu revirava todas as lojinhas de San Pedro à caça de uma porra de uma cuia, ele decidia se vai pra Salvador ou se o fantasma vem pro RJ. 

O feladaputa nem se dignou a vir me dizer isso pessoalmenteeeeeee!!!!

(gentem, minhas derrotas não cabem em 240 caracteres, né?)

Manda a verdade que se diga que eu mereci. Mereci não, pq ninguém merece um pé na bunda virtual, mas procurei: perdi os últimos meses esperando contra todo o bom senso, aceitando com alegria franciscana as migalhas dormidas do pão do moço, raspas e restos semanais que nem queimavam nem aqueciam. tsc

Cabeça de bacalhau foi pauta recorrente aki no rascunho. A 1ª criatura que passa pela minha vida e achei que valia o investimento (pq eu achei isso continua um mistério, inda mais agora!). Lady Lispector disse que sempre há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam... eu achava que era isso, uma questão de time. Se eu concentrasse toda a paciência que me faltou a vida inteira, se fosse menos imediatista, se eu desse tudo que queria receber, se... se... se... TALVEZ finalmente chegasse a tal da benção da simultaneidade

Ledo engano, pessoas. (merda! Eu não tinha esse tempo todo pra perder!)

Claaaaaaaaro que fiquei tristinha, chorei e tal & tudo. Sigo abraçando a dor, ciente de que o inverno emocional será loooongo. (suspiro resignado) Mas seria muita ingratidão de minha parte voltar de um lugar f-o-d-á-s-t-i-c-o pra enguiçar nesse episódio lamentável hediondo!

Eu vi tanta coisa bonita, La Comuna é tão do bem, deu tudo tão certo, o soroche não derrubou ninguém... não tenho direito MERMO de vestir de novo meu xale de velha carpideira, né? Já gastei mais velas do que o defunto merece. Basta!

Mantra pra situação: sin perder la ternura jamás!!!! Aooooonnn

25 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP IV

ATACAMA x UYUNI

Desde que soube de sua existência, o Salar de Uyuni me instiga: a 3.650m de altitude, são quase 12.000 km² do que em priscas eras já foi um lago. Estima-se 10 bilhões de toneladas de sal. No caminho geysers, lagunas, uma piscina termal e uma ilha de cactus gigantes. Eu pre-ci-sa-va ver isso com meus próprios olhos!

Estava meio cabreira, afinal ia sozinha e os relatos do mochileiros.com de maneira geral diziam que não passar perrengues nessa travessia era questão de sorte. Como Murphy não me larga, melhor não facilitar: optei pela agência mais famosinha e fosse o que Deus quisesse. Não ia mesmo perder essas belezuras todas só pq o jeep poderia quebrar no meio do nada. "São Miguel Arcanjo, com suas asas protegei-me!" e bora lá! 

Pois vale cada um dos 80.000 chilenos que me custou! Não é papo de turista afetado, juro. Como já disse, adjetivos não dão conta  e só restam perguntas - sem respostas: como assim tanta lagoa no meio do deserto? Como assim as patinhas dos flamingos não congelam? Como assim os bichos não se contaminam com os excessos de lítio, potássio, boro e magnésio? Como assim uma ilha de cactus cresce em cima do sal? Como assim esses guias não se perdem?

Não sei onde fiquei mais deslumbrada pq o Salar de Tara tb é indecente mas acho que foram tipos diferentes de abestamento. Pq NADA no deserto se parece.


Os perrengues são os mesmos do Chile: altitude, vento e frio. O bônus boliviano é que no hay água caliente todos los dias! Entonces baño dia si, dia no. Não chegou a ser um transtorno, manda a verdade que se diga: nos viramos muito bem com lencinhos umidecidos. Dois banhos de gato diários é mais do que se espera nessas condições, convenhamos. (0 nariz a essas alturas está avariado, dai que não se sente cheiro de nada. Mas cheiros haviam: dos geysers certamente se volta fedendo a enxofre!)

20 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP III

SAN "PERRO" DE ATACAMA

San Pedro de Atacama é uma cidadezinha simpática no meio do nada do altiplano chileno. É toda palha & terra, do jeitinho que imaginei. E dá pra percorrer inteira a pé. A-d-o-r-o cidadezinhas assim, que dão pra conhecer a pé.

A vida só começa depois das 10:00 e ninguém tem pressa pra nada. Particularmente não há pressa alguma para fechar a conta do restaurante! As vezes rola uns blecautes mas ninguém se esquenta. (Teve um minutos antes do derradeiro jogo do Brasil e não houve uma boa alma pra acionar o gerador!)

É o lugar mais democrático que eu já vi: tudo para todos os tamanhos de bolso!

Lá tem mais cachorro do que turista, sério mesmo. E não são aqueles cachorros vadios, esquálidos... todos são bem criados: grandes, gordos e abusados. Estão por toda parte e não incomodam. (Andres, nosso guia em Santiago nos explicou: as ONG´s que cuidam de animais são muito atuantes e maltratar dá problemas)

Dei a sorte de chegar no dia da festa de São Pedro, pescador de hombres. O que encontrei foi uma mescla de cultura atacameña com ícones católicos. Não há o menor indício da beatice cristã, mas o capricho dos ornamentos do santo, do andor e dos estandartes a despeito da quantidade de fiéis para venerá-los me fez pensar que na cidade deve valer a regra do "menos é mais".  


Além dos cachorros, Deus colocou muitos lugares fodásticos ao redor. Não vi tudo, claro. E do que vi, deixo recomendadíssimo:  

Salar de Tara
A uns 170 KM de San Pedro, 4300 mts de altitude, mais de 35.000 hectares. Reza a lenda que lá estão as rochas mais antigas do mundo, as Catedrais de Tara.


Fotos não fazem jus a beleza daquele lugar e nenhum dos meus adjtivos hiperbólicos dá conta de descrever. Fiquei simplesmente hipnotizada.

O deserto te devolve o senso de perspectiva, sabe? Foi bom lembrar que sou um cisco na vastidão desse mundo... bom pra eu me convencer de vez: q-u-a-l-q-u-e-r vento me arrasta! Mas o Senhor do vento não vai me levar aonde as asas de sua proteção não possam me alcançar.

(eu sabia que esses dias  iam me revirar. Fiquei pensando nos meus enguiços, nas ninharias do dia a dia... tudo fica tão insignificante!) 

Pukara de Quitor
A uns 2 KM de San Pedro. Fomos de bicicleta! São 2,5 hectares de ruínas do que no sec XII foi uma fortaleza construída para defender o povo atacameño dos ataques dos incas.


Pedalada bem tranquila! Se eu consegui, qualquer um consegue. Maaaaaaaaaas a gente se atrasou muito na volta, escureceu, o riozinho que atravessamos encheu e nos perdemos. Momento tenso I. Confesso que a lanterninha não era suficiente pra minha miopia e atropelei TODAS as pedrinhas do caminho. Confesso tb que sempre ficava por último e gritava pro Gus me esperar hohoho

14 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP II

O INFERNO É FRIO

Eu não tenho dúvidas.

Digamos enton que fui abraçar o capeta: nesta terra faz um frio la-za-ren-to, minha gente!

Se chega fácil fácil a 0º e quando desce a menos que isso, parece que o couro já curtiu e a gente nem sente. Não sente nada: as pontas dos dedos, do nariz, das orelhas...

Eu me vestia a la cebola, em camadas. A 1ª é equivalente a calcinha e sutiã no Brasil: calça leggin + 2ª pele + meia de algodão + luva de lã 1/2 dedinho; a 2ª é jeans + moleton flanelado + meia de lã; a 3ª é um casaco pesado + cachecol + luva + gorro. E as vezes rolava até uma 4ª camada, um casaco corta vento + meia de lã de Alpaca. 

Dai que a gente tem noção do passar das horas pelas roupas que vai tirando: saimos de manhã empacotados conforme acima, mas na hora do almoço já dá pra liberar o casaco corta vento e a meia de alpaca; se o sol tiver quente (não se sente que está quente, mas como os lábios ressecam uma quantidade, a gente desconfia) dá pra tirar o moleton de baixo do casaco pesado e o cachecol. Dai já está entardecendo, começa a ventar e precisa vestir tudo de novo.

Cada dia é uma coisa que te gasta: um dia é o ouvido que dói por causa da altitude ou vento; noutro são os dedos dos pés que meia nenhuma dá conta de aquecer; noutro é o nariz que arde pq se respira um ar gelado, noutro é a garganta que reclama o pó que engoliu, TODOS os dias te falta ar pra algum esforço a mais... 

Detalhe importante: não sei se pela temperatura, pela altitude ou pelos dois (mais provável) o meu nariz sangrou! Dai que virou um hábito tão comum como escovar os dentes expelir o sanguinho coagulado de manhã e passar o dia borrifando soro fisiológico. 

Detalhe importante²: só protetor solar não basta. A noite tem que rolar uma manteiga de cacau nos lábios. Pro resto do corpo, não há hidratante que chegue. Fica tudo um casco, mas terei o resto do mês pra cuidar disso.

Detalhe importante³: o vento castigou meus olhos. Deve ser um combo de falta dos óculos de grau + vento + claridade, mas o fato é que também virou hábito lava-los com soro.

Ninharias, por supuesto. Nada que te mate, mas lá pelas 23:00 a gente está suspirando por uma cama quentinha...

Por tudo que se vê, achei um preço justo!!!



11 julho 2010

DIÁRIO DE VIAGEM CAP I

Voltei, meu povo. 

Meu cabelo tá uma palha, minha pele um casco, meu nariz ainda não voltou ao normal, mas estou deslumbrada.

Pra começar o diarinho, vamos às distâncias:

VR X RJ - uns 100 km

RJ X Santiago - uns 3600 km

Santiago X Calama - uns 1500 km

Calama X San Pedro de Atacama - uns 95 km

San Pedro de Atacama X Uyuni - uns 2300 km

(Sem contar os tours próximos a San Pedro, acho que o mais distante foi o Salar de Tara, a 170 km)

Como já avisei, os textos vão ser meio iguais por enquanto... rs


GENTE DO BEM ATRAI GENTE DO BEM

É uma das poucas certezas que tenho nesta vida. Penso que a paz mundial depende tanto de Israel ou EUA quanto de mim e de vc que, com atitudes desarmadas (e num esforço diário para não empacar a vida, nem a própria nem a alheia!) podemos fazer deste mundo um lugar mais habitável.

Dai que eu estava decidida a começar essa trip sozinha. Pesquisei tudo como se fosse mesmo, mas acho que Deus ficou com pena e me mandou não um mas TRÊS companheiros para a viagem \o/

Ana chegou primeiro, depois o Gustavo e (praticamente na semana do embarque!) o Luiz. Brasília, Anápolis e Rio. Se a gente já se conhecesse não teria dado tão certo.

Ana é a alma da trip. Daquele tipo que quer curtir as 24 hrs do dia e acha que se for pra dormir, que seja no Brasil. Não recusou nenhuma cerveza ou pisco sour e voltou levemente frustrada por não ter conseguido cia. pra escalar o vulcão Láscar. Luiz e eu melamos o skibunda que ela pretendia fazer no Vale de la Luna, mas creio que isso ela já superou.

Gustavo é o coração. Sempre carinhoso e interessado em tudo e todos, não se irritou com a minha obesessão por fotos sem sombras e cedeu gentilmente seu soro fisiológico e um cadeado (o meu troquei a senha sem querer e fiquei com medo de usar). Nossa afinidade foi instantanea desde o MSN. 

Luiz é nosso GPS. Mochileiro advanced, sem roteiro nem passagem de volta marcada, ele não riu quando Ana e eu nos perdemos nas 4 ruas de San Pedro, aguentou estoicamente o frio do seu quarto e administrou com diplomacia o princípio de motim no Hotel de Sal... hohoho

La Comuna "tinha tudo em comum e dividia seus bens com alegria": água, hidratante, protetor solar, lencinhos umedecidos, biscoitos, barras de cereal e, quando preciso, até $

Sou muito grata a cada um deles por terem feito essa trip tããããããããão mais fácil.