28 junho 2009

SINTONIA x PROBABILIDADE

Dia desses Gab e eu estávamos no MSN divagando sobre isso dos nossos interesses dificilmente serem recíprocos, possíveis, descomplicados...

As vezes fico pensando em quantas pessoas bacanas devem ter no mundo pra eu perder tempo justamente com gente que não merece. Jana lembraria do meu dedo podre, da minha vocação pras más escolhas (e eu meio que concordaria, mas argumentando que excentricidades me atraem). Gab até consideraria a possibilidade de outros condicionantes, mas acha que tudo é questão de sintonia e química.

Sendo apenasmente uma questão de sintonia: como ondas de rádio!?! Vc sintoniza e escuta. Se gosta do que ouve, vira um boa cia. Se não, procura outra faixa. (num mundo cada dia mais autocrático nem soa tão mal assim escolher as pessoas como se escolhe música...rs)

Perguntei se não seria cisma. Pq eu me conheço e sei que qdo cismo com o vivente é f-o-d-a. De maneira geral enquanto não gasto todo o meu latim e ele não me gasta toda a paciência, não desisto. Felizmente o tempo tá me fazendo menos teimosa e nem tenho demorando muito para me conformar quando o interesse é unilateral...
(meu recorde de desapego é uma semana!)

Enton a gente empaca pq cisma? Isso mesmo? Que puxa... [entonação de Charlie Brown] E se não for tão simplista assim?

Ou não, se for absolutamente simples e irretorquível: tudo reduzido a lei das probabilidades!?! Probabilidades, acasos, oportunidades, disponibilidades... daqui, da minha vista do ponto, começo a achar que a relação é mais ou menos essa: as chances conhecer alguém disposto e disponível são inversamente proporcionais a urgência de quem espera...
(pq disposto e indisponível é facil, disponível e indisposto é mais fácil ainda - vide Teorema Fundamental de Murphy)

Quando eu já estava dando esse texto por perdido (Gab foi e voltou do seu mochilão pela Europa e eu não escrevi mais nenhuma linha), tive uma micro-epifania sobre meus enguiços: eu empaco em algumas pessoas e situações por conta do meu eterno não-saber!!!

Pq não consigo me contentar apenasmente com o que é, despudoradamente alheio a minha vasta psicologia de boteco.

Pq eu quero-pq-quero esmiuçar o subjetivo da coisa - pretensão duzinfernu! - pra me parecer ao menos razoável.

Pq eu vivo pra exumar as interrogações que jazem com o ser que desencarnou do mundo das minhas possibilidades. (as tais verdades difíceis de suportar de lady Lispector, sabem?)

aff... será que eu ainda tenho conserto?

21 junho 2009

ADVOGANDO EM CAUSA PRÓPRIA

Eu já disse por aki que meu superego está ficando gagá? Pois está! Depois de anos a fio me atentando o juízo e em guerra sem tréguas com o id, parece que ele está se dando por vencido, se conformando com a impotência. Maaaaaans como todo senil tem lá seus lampejos de lucidez, devo confessar que eu sou uma fraca. hihihi

Por falta de vergonha na cara, por não ter nada a perder, por irresponsabilidade, por capricho, por carência e por um tesão inexplicável, cá estou eu de novo-outra vez-novamente com os dez dedos lambuzados numa (naquela mesma!) situação moralmente questionável e cinestesicamente deliciosa. E pior, cheia dos argumentos:

Transgredir é transcender. Nossa história não teria mártires no campo político, científico, religioso, cultural e artístico caso fosse possível transcender sem colocar em risco a sobrevivência da espécie (...)

Da mesma forma que a tradição precisa da traição, que a preservação precisa da evolução, que o acerto de hoje dependeu do erro de ontem, o contrário também é verdadeiro. Porque a evolução só é possível quando existe uma manifestação para ser contestada, aviltada.(...)

É obvio que transgredir não é da ordem do positivo absoluto e todos sabemos que o herege de ontem é a possível mutação de hoje, mas pode também ser o câncer do dia. O animal de todos nós tem compromisso absoluto com a preservação, seja ela obtida através do ato de preservar ou de mudar. O problema, no entanto, está no fato de que é impossível mudar sem se expor ao erro absoluto. Muitas evoluções tiveram, ao longo do tempo, o "simples" custo do próprio desaparecimento. Mas o movimento é inexorável. A mutação é imperativa para a continuidade e ela jamais ocorrerá sem a tensão inerente ao fato de que o caminho da saúde poderá ser, na realidade, o da doença. O transgressor tem muito medo dessa percepção. Ele precisa da tradição e dos tradicionalistas para permitir suas incursões em determinado inferno ou paraíso.

Nilton Bonder em " A Alma Imoral"


16 junho 2009

O QUE MAIS VC QUER?

Hoje eu acordei mais chata que o habitual... sabe aquele bicho que te morde as vezes e te deixa insatisfeita com tudo e com todos? Dai por pura polianice tu olha em volta procurando algo pra te encher de gratidão e te calar a boca reclamona... poizé, olhei, até vi um monte de coisa bacana mas eu quero mais. tsc Eu sempre quero mais...

Quero não ter condescendência com o tédio, não ser forçada a aceitá-lo na minha rotina como um inquilino inevitável. A cada manhã exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.


Quero uma primeira vez outra vez. Um primeiro beijo em alguém que ainda não conheço, uma primeira caminhada por uma nova cidade, uma primeira estréia em algo que nunca fiz, quero seguir desfazendo as virgindades que ainda carrego, quero ter sensações inéditas até o fim dos meus dias.


Quero ventilação, não morrer um pouquinho a cada dia sufocada em obrigações e exigências de ser a melhor mãe do mundo, a melhor esposa do mundo, a melhor qualquer coisa.


Gostaria de me reconciliar com meus defeitos e fraquezas, arejar minha biografia, deixar que vazem algumas idéias minhas que não são muito abençoáveis.


Queria não me sentir tão responsável sobre o que acontece ao meu redor. Compreender e aceitar que não tenho controle nenhum sobre as emoções dos outros, sobre suas escolhas, sobre as coisas que dão errado e também sobre as coisas que dão certo. Me permitir ser um pouco insignificante.


E na minha insignificância, poder acordar um dia mais tarde sem dar explicação, conversar com estranhos, me divertir fazendo coisas que nunca imaginei, deixar de ser tão misteriosa para mim mesma, me conectar com as minhas outras possibilidades de existir.


O que eu quero mais? Me escutar e obedecer meu lado mais transgressor, menos comportadinho, menos refém de reuniões familiares, maridos, filhos e bolos de aniversário e despertadores na segunda-feira de manhã.


E quero mais tempo livre. E mais abraços. E receber mais flores.


Pois é, ninguém está satisfeito. Ainda bem.

Martha Medeiros em Doidas & Santas


03 junho 2009

E TUA ALMA, TEM PESO DE QUE?

Para ler ao som de Oração ao Tempo, na voz de Bethânia, claro!

Dessa vez o mote foi de Candice, que, não bastando a audácia de confessar que sua alma tem o imaterial peso da solidão no meio de outros inda deixou, especialmente para o meu deleite, reticências em forma de pergunta: - e tua alma, tem peso do quê?

Pois já respondo, tri-amada, que não resisto a uma pergunta, mas antes devo dizer que o texto é antigo, daqueles de status "impublico". Mais um dos que o tempo mitigou toda a acidez... bora lá:

MARCO ZERO

Que lástima um dos meus sentimentos mais ferozes ser tão infértil!

Será que se eu deixasse ele morreria de velho, perdendo a virilidade e a lucidez com o passar do tempo? Ou morreria de desgosto quando topasse com a verdade dos fatos, fora todo o subjetivismo e canhestrice do qual foi vítima? Morreria fulminado por um enfarte, de repente? (essa possibilidade muito me agrada! rs)... tsc o mais perto que já consegui chegar de estar apaixonada (com todas as incoerências inerentes a) e eu preciso enterrar ainda vivo, por absoluta falta de opção!!

Não ser alcançada em meus abismos e labirintos já dói em paz e faz tempo. Cretinamente conformada. Ninguém merece mesmo esses seres densos-e-verborrágicos-e-over-pensantes-e-detalhistas-que-precisam-entender-tudo-sempre. Mea culpa, mea maxima culpa. Dói em paz e eu nem lamento muito.

Bem, eu nunca h-a-v-i-a lamentado muito... hoje, depois de permitir que minha idiotice fosse atestada de novo, eu não só lamento com todas as fibras do corpo como gostaria de, extraordinariamente, ser compreendida. Entende? Eu dizendo "A" e "A" sendo assimilado sem os tradicionais lapsos na comunicação... gastaria todo o meu latim, repetiria 1000 vezes, desenharia, faria qualquer coisa se isso pudesse mudar uma linha que fosse nessa história. Até ontem, só doía lá onde a prepotência me acha perfeita, absoluta, assertiva, irretorquível. Lá, no pedacinho de mim que acredita que quem fala a verdade não merece castigo.

É a 1ª vez que não viver boiando na superfície dos fatos nem confiar no aparente me dói inteira:

dói na alma, numa espécie de presságio por tudo que ainda irei perder por não ser capaz de me contentar apenasmente com o que é, por querer saber a qualquer custo o que pode haver entre um sim e um não;

dói no coração, num luto eterno por tudo que morreu nas mãos inépcias dos que me ouvem sem escutar;

e dói no corpo que, saciando em outros corpos sua sede de pertença, se sente cada dia mais virgem, inóspito.

Não sou eu quem vive buscando inteireza? Pronto, os caquinhos estão todos ai no chão, só juntar e colar agora! rs

Em tempo: lamúrias-pós-enrosco-afetivo, claro. Manda a verdade que se diga que ele - o sentimento - não enfartou nem esclerosou... digamos que já lhe cairam alguns dentes, que anda meio brocha, mas segue numa lucidez diabólica: vezenquando me atentando com a curiosidade inútil de querer saber quando foi que a coisa começou a perder o prumo, vezenquando me adulando, repetindo baixinho que viver é melhor que ser feliz.