08 novembro 2008

SOBRE O AMOR DA MINHA VIDA

Para ler ao som de "Como Dizia o Poeta", do Toquinho

Eu encontrei. Quem diria? Logo eu, tão descrente dessas coisas do coração...

Poizé, encontrei. Tem nome, é de carne e osso, cheiro e toque. Não sei se devia acreditar, e as vezes eu desacredito total, mas me ama também. Agora só falta encontrar alguém com quem eu possa viver.

É que o amor da minha vida não cabe em mim e eu não caibo nele. Não basta que a gente se queira, se entenda e se goste há todo esse tempo. Não basta essa gastura em que a gente vive, os surtos de não-vou-mais-te-ver que eu tenho e a teimosia de esperar mais daquilo que não há de ser. Não presta que ele mova céus e terras pra me ver e que depois eu fique aki, com vontade de que volte logo e pra sempre. Não importa que eu esqueça até o meu nome depois, que os sentimentos corram de ambos os lados, intensos e desarvorados. Não é suficiente que haja amor para se viver um amor.

Eu e ele somos o sol e a lua daquele .pps velhíssimo que tenho certeza que vc já recebeu pelo menos 2 vezes. Seus mistérios me instigam e minha clareza o ofusca. Tenho fascínio pelo mundo plácido e descomplicado que ele habita, e ele vive intrigado pelo que supõe inalcançável em mim, mas quando enfim eu digo "venha", (sim, ele traz a lenha e só sobram cinzas no final hohoho) ele entende "vá". Quando um se sente em paz o outro quer a guerra. É preciso me traduzir a cada centímetro do caminho enquanto ele explica que eu também não entendi nada. Discordamos sobre alguns conceitos - particularmente o de fecilidade - sobre o que fazer com o dinheiro, sobre como criar filhas aborrecentes, sobre nossos limites e sobre o que queremos um do outro e um para o outro... O desacerto é imenso, impossível abstrair.

Dai que inspirada pela autora desse texto que estou mutilando sem dó, fui ver A Ópera do Malandro. E Chico Buarque, perfeito como sempre, trouxe um pouco de lucidez a essa alma meio abobada pela novidade que é estar apaixonada:

O amor jamais foi um sonho,
O amor, eu bem sei, já provei,
É um veneno medonho.
É por isso que se há de entender que o amor não é ócio,
E compreender que o amor não é um vício,
O amor é sacrifício,
O amor é sacerdócio.

Nosso amor é sacerdócio. Supõe privações pelas quais não estou disposta a passar. Vai me exigir cedo ou tarde renúncias que não serei capaz sequer de considerar. Vai ter qualquer coisa de devocional pra sempre. Talvez eu até lhe compre um relicário, que seria bem merecido. Mas só. Já deu.

Iluminada por Chico, corajosa como uma mulher bomba, decidi que não quero mais o amor da minha vida ocupando o lugar de amor da minha vida. E venho publicamente pedir que libere a vaga:

- É com você mesmo que estou falando, você aí, que se instalou feito um posseiro dentro do meu coração, fazfavô de caçar um rumo! Xô.

Há de haver um homem possível, me esperando em algum lugar nesse mundo. Um homem que fale a minha língua e traduza meus silêncios. Que mais do que me querer, possa cuidar de mim. As qualidades podem até variar, mas aos eventuais interessados já vou avisando que existe um defeito que considero imprescindível: inconformismo. O próximo amor da minha vida não pode nunca se acomodar com o que incomoda. É um pecado, mas o que está dando ponto final à nossa história é essa maldita mania de viver no outono. Tá ruim mas tá bom, sabem como? Que derrota...

N.A.: a base do texto é de Maitê Proença. Fui retocando aki e ali pra
minha história caber justinha.

9 comentários:

Anônimo disse...

Lhe disse, não há como fugir do amor. Nem correndo muito, ou se escondendo nos lugares mais podres.

Ele nos acha. E nos pega pelos cabelos.

Anônimo disse...

ótimo texto, na verdade... tudo ficou muito claro e bem dito.

mas acredito que a frustração seja descobrir que o amor mais verdadeiro de sua vida não é o maior (ou que sabe o grande) amor de sua vida. :-(

Jana disse...

será que pensei na pessoa certa... acho que sim... tenho quase certeza

sabe, essa pessoa redonda não existe, pq a gente é meio quadrada. deve ser isto.

beijo

Tati disse...

Adoro seus textos e seu blog... beijos

Oksana disse...

Lindíssimo texto. Eu também já senti uma vez que amar e ser correspondida não era suficiente pra viver o amor.
Mas hoje já não tenho certeza de que o que sentia era mesmo amor, e se era correspondida mesmo, então não sei de nada. Mas o texto é lindo!

Mônica disse...

será q sou pessoa indicada pra falar sobre???

e qto ao q tá lá, eu copiei da tri, sim... vai nos arquivos de junho q vc acha.eu é q fui lenta pra postar...rs

beijos e saudades

( qq dia o msn piscará,tá?)

By Ana D disse...

Ahhh...e num é que um dia acontece e a gente tem até o despudor de revewlar para o mundo rsrsrs ...beijos !!

Thays França disse...

"maldita mania de viver no outono"
Simplesmente me traduz! como pode?
Lindo blog, perfeita música.

beijo.

Anônimo disse...

Nossa... esse texto parece estar contando a minha história... "os surtos de não-vou-mais-te-ver que eu tenho e a teimosia de esperar mais daquilo que não há de ser." eu tenho exatemente isso, e o meu Amor era exatamente como vc descreveu sem-se-incomodar-com-o-que-incomoda, e a errada ainda era eu, mas agora ele já encontrou o amor Hublle dele(simples, mulherzinha by Sex and City)... Então tá, que ele seja feliz...