19 agosto 2007

A FLOR DA PELE

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz chorar
E que me salta os olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz implorar
O que não tem medida nem nunca terá
O que não tem remédio nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será, que dá dentro da gente que não devia
Que desconcerta a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso nem nunca terá
O que não tem cansaço nem nunca terá, o que não tem limite
O que será que me dá, que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vem agitar
Que todos os ardores me vem atiçar
Que todos os suores me vem encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a chamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá, o que não tem juízo*

* Chico Buarque

4 comentários:

Anônimo disse...

Essa música é a medida exata da aflição, não é? ela grita pela letra toda.

beijos clarisssima, mirmã gêmea univitelínea. rsrs

eurídice disse...

valha mi Deuso!

e uma vez me disseram que "à flor da pele" era a melhor descrição da paixão ever.

Haya disse...

Fiquei a tentar descobrir o que é que me dá... To com a letra da música: sem resposta.
beijocas, flor!

Mônica disse...

se tu tivesse mais perto te juro q hj era dia de mesa de canto....