(...) Guiava-o a vontade de descobrir o próprio determinismo, e segui-lo com esforço, pois a linha verdadeira é muito apagada, as outras são mais visíveis. Separava, separava. Separava o chamado joio do trigo, e o melhor, o melhor se comia. Às vezes comia o pior. A escolha difícil era comer o pior. Separava perigos do grande perigo e era com o grande perigo que o ser, embora com medo, ficava. Só para pensar com susto o peso das coisas. Afastava de si as verdades menores que terminou não chegando a conhecer. Queria as verdades difíceis de suportar. Por ignorar as verdades menores, o ser parecia rodeado de mistério; por ser ignorante, era um ser misterioso. Tornara-se também: um sabido ignorante, um sábio ingênuo, um esquecido que muito bem sabia; um sonso honesto; um pensativo distraído; um nostálgico sobre o que deixara de saber; um saudoso pelo que definitivamente perdera e um corajoso por já ser tarde demais.
Tudo isso, contraditoriamente, foi dando ao ser uma alegria profunda que precisava se manifestar, expor-se e se comunicar. Nessa comunicação o ser era ajudado pelo seu dom inato de gostar (...) Gostava da profunda alegria dos outros, por dom inato descobria a alegria dos outros. Por dom, era também capaz de descobrir a solidão que os outros tinham (...) O ser, também por dom, sabia brincar. E por nascença sabia que gestos, sem ferir com o escândalo, transmitiam o gosto que sentia pelos outros. (...)
Como o ser era muito pobre e não tinha o que dar, o ser se dava. Dava-se em silêncio e dava o que juntava de si. Tudo isso com discrição, pois se tratava de ser tímido. Também era com discrição que o ser via nos outros o que os outros tinham juntado deles mesmos; o ser sabia como era difícil descobrir a linha apagada do próprio destino,como era difícil não perde-lo de vista."
___________________
Recortes de "Perfil dos Seres Eleitos". Clarice Lispector, em "Para Não Esquecer"
(E hj, pessoas, esse ser sou eu!)
Tudo isso, contraditoriamente, foi dando ao ser uma alegria profunda que precisava se manifestar, expor-se e se comunicar. Nessa comunicação o ser era ajudado pelo seu dom inato de gostar (...) Gostava da profunda alegria dos outros, por dom inato descobria a alegria dos outros. Por dom, era também capaz de descobrir a solidão que os outros tinham (...) O ser, também por dom, sabia brincar. E por nascença sabia que gestos, sem ferir com o escândalo, transmitiam o gosto que sentia pelos outros. (...)
Como o ser era muito pobre e não tinha o que dar, o ser se dava. Dava-se em silêncio e dava o que juntava de si. Tudo isso com discrição, pois se tratava de ser tímido. Também era com discrição que o ser via nos outros o que os outros tinham juntado deles mesmos; o ser sabia como era difícil descobrir a linha apagada do próprio destino,como era difícil não perde-lo de vista."
___________________
Recortes de "Perfil dos Seres Eleitos". Clarice Lispector, em "Para Não Esquecer"
(E hj, pessoas, esse ser sou eu!)
7 comentários:
Tipo assim.. (???)
Sem muito o que falar né, da pra ler as linhas, as entrelinhas e ainda achar mais coisas...
beijos
Amo Clarice Lispector.
Sem comentários!
Beijos querida!
Hummm!!! " Queria verdades difíceis de suportar"
Essas verdades...
É incrível como certas palavras parecem direcionadas pra nós rs..Acho que no fim todo ser humano é feito da mesma matéria: emoção, sentimento. Belo texto, moça. Sempre bom vir aqui porque sebemos q iremos nos deparar com palavras sensíveis ( por vezes divertidas rs). Abraço !
Tbm sem comentários... Lindo o texto!
Clarice é TDB mesmo! =)
Arrumo no sr. google kkkkkkkk
beijos
Diante de Clarice, calo-me.
Bjos
Postar um comentário