22 janeiro 2009

IMPUBLICO

Sabe qual é o meu sonho secreto? Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia (...) E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir nesse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude.

Fernanda Young em “Aritmética”
Se tivesse me sobrado alguma, eu teria vergonha de dizer que isso ai é mais uma das minhas verdades-de-ponta-da-língua, daquelas que a gente não verbaliza em nome do amor próprio. Poizé, não diria pq não faz parte do meu show, mas alguns dos parcos seres que pisaram minhas areias me despertaram tais níveis de estupor... estou até agora chocada, mas é me imperativo confessar: eu preferia ser apenas a Beatriz de Chico, altiva, envolta nos véus de seu mistério. Alguma tristeza, que senão faltaria beleza, mas irrepreensível em dignidade. Maior que as suas dores e por isso mesmo serena, cretinamente serena.

Dai eu leio uma coisa dessas numa tarde ociosa e me descubro outra: Estúpida. Latina. Bethânia... de uma previsibilidade patética, sendo eu tão mulher quanto as outras, sejam as de Chico ou qualquer Zé. E nem posso me escusar por TPM!

Nem sei se lamento ninguém alcançar o que quero dizer, mas me é absolutamente familiar isso de querer mais um pouquinho! Eu sempre quero, e quero geralmente o que não se pode dar mesmo, pq nem sei direito o que é. O que esse livro me evidenciou foi a diferença entre querer 'uma' pessoa e querer 'a' pessoa, entre meus caprichos e minhas imprescindibilidades.

Esse recorte é um escândalo de precisão, de uma franqueza indecente pros meus eufemismos. Mais uma vez descoberta - e a breguice devidamente desculpada - sigo confessando: o que mais agride nem é constatar que nunca souberam aproveitar minha sempre-bem-humorada-cia.; nem o ridículo de decair em chatice (pr' o que, aliás, um outro recorte dá uma excelente justificativa); nem admitir que não sou tão esperta quanto acredito ser; nem a derrota que é admitir que meu cortejo de virtudes fez mais mal do que bem... o PHoda da coisa é descobrir que algo em mim a-i-n-d-a espera que esses sujeitos que nunca consegui ter a vera, por incompetência ou fatalidade mesmo, me surpreendam com algo que sinalize que lamentam tanto quanto eu... e enxergar - agora com meus olhos de Alcione - que em culpa ou dolo, tenho participação ativa na morte matada dos meus fiascos emocionais.

blergh. Estamos em que século, hein? Incrível como ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais, apesar de termos feito tudo o que fizemos...

N.A.: pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário merrrrrmo: esse texto é de jun/08, que achei impublicável na época. Dai passou um tp, minha indignação baixou um cadim e deixei Jana publicar... e agora cá estou eu, absolutamente sem vergonha, assumindo esse aspecto obscuro e muito bem camuflado de minha pessoa. hihihi

5 comentários:

Anônimo disse...

Acho q vou comprar esye livro!!!! Né possível...

eurídice disse...

ah, querida, o que seria de nós se não fossem nossas fraquezas, confessáveis ou não. e publicar textos impublicáveis outrora pode ser falta de vergonha na cara ou uma louvável evolução. beijos meus e saudades sempre. e o recorte é mesmo o máximo!

Anônimo disse...

eu li esse texto no blog da janaína. achei lindo!!!! continua lindo... bjsss

Anônimo disse...

oi clara, eu tô divulgando um blog que tenho com amigos, em que a gente discute um livro por mês. agora o livro é "memórias do subsolo" do dostoiévski. passa lá e diz o que achou, ok?!!! o endereço é http://linumlivro.blogspot.com bjsss

Jana disse...

"Esse recorte é um escândalo de precisão" é e hj me pareceu mais preciso ainda, o recorte dela, e todo o seu mais ainda...

beijo