18 maio 2009

MY ZINC BED

Foi o filme que salvou meu domingo.

Me prendeu a atenção quando começou a questionar com lucidez - e a crueldade inerente a - o papel dos Alcoolicos Anônimos na vida do dependente químico. O discurso de uma das personagem é que o grupo está menos interessado na cura do sujeito e mais na sua ativa participação nas reuniões de apoio. Ele sugere que o AA funciona para afastar o alcoolatra dos bares e de todas as ocasiões que envolvam ou conduzam à bebida mas todas as "estratégias" para ajuda-lo a não tomar o primeiro gole acabam por minar sua auto estima, convencendo-o da sua total incompetência diante da vida e, por tabela, diante de tudo e todos que possam levá-lo a beber.

Bem, sempre tive comigo a idéia - impronunciável claro! - de que havia alguma coisa errada naquela coisa de "Admitir que somos impotentes perante o álcool - que perdemos o domínio sobre nossas vidas" Do topo da minha sobriedade eu achava que sim, as pessoas perdem o prumo. Sim, o vício é uma praga, uma doença. Sim, sem ajuda é muito difícil andar pra frente. Maaaaaas qdo eu conversava com adictos em tratamento eu encontrava neles o mesmo discurso depreciativo e outras variantes de dependência. Os caras trocaram os porres por uma vida blindada, avessa a emoções fortes com as quais haviam lhes dito que não eram capazes de lidar. Ok, não resta dúvidas de que a troca parece a mais acertada e libera família e amigos pra viverem suas vidas em paz. Mas qual o preço?

Informar um alcoolatra de que ele bebe pq não tem controle sobre si resolve 1/2 problema e cria pelo menos mais 1: se ele não tem, vai precisar ter por perto alguém que assuma esse controle, e isso é, sem grandes floreios, transmitir aos outros uma responsabilidade que é sua. Eu já passei pela constrangedora situação de oferecer bebida a um alcoolatra e receber olhares fuzilantes. Na época lamentei tanto quanto não oferecer refrigente diet ao diabético que também estava conosco... ok, não me custa ser complacente por 2 ou 3 hrs, mas acho injusto que pais, mães, maridos, esposas, filhos etc sejam escalados como anjos de guarda eméritos. A pessoa precisa se comprometer consigo mesma, do contrário nada funciona. E se aparentemente funciona, estraga alguma outra coisa.

Dai que estender essa estratégia de preservação às religiões foi um passo curto: é um outro achismo, mas esse discurso temerário de que o mundo é mal e que é preciso renunciar a ele pra ser feliz é deixar o padre/pastor decidir por vc. (e há ecos desse pensamento em todas as religiões: é o mesmíssimo nirvana budista, só que esse tá mais na moda.) Claro que não estou cá a pregar o hedonismo, quem me conhece sabe que sou uma santa... rs mas o fato é que nossa vida tem que ser feita de nossas escolhas e não as dos outros. As deles nos servem - quando muito - de inspiração.

Outros temas igualmente nevrálgicos se desenrolam a reboque: por ter uma auto estima comprometida, os adictos morrem de culpa o tempo todo. Por serem conscientizados de sua inépcia emocional e social, sabotam suas boas iniciativas e desacreditam de suas qualidades. E algo que me comoveu muitíssimo: com que espontaneidade que discursam contra si mesmos! Dão sólidos argumentos pra provar o quanto não são confiáveis!

Muito grata a Deus por não ter nascido com essa inclinação, sensibilizada até as lágrimas pela vida cachorra que essas pessoas levam,
(e, claro, meio besta por ver meus achismos mais uma vez virarem filme hohoho) fico pensando em que pedaço do caminho suas almas se estilhaçaram desse jeito...

3 comentários:

eurídice disse...

meus achismos vezenquando tb viram filmes. adoooooooroooo!!! belo post, querida. lúcido e claro como você.

Unknown disse...

bem bem.. não assisti ao filme mas posso dizer, com algum conhecimento de causa, que vai de pessoa pra pessoa. Deixa eu tentar ser mais claro, essa coisa de "auto-flagelação" e baixa auto-estima vai muito além de uma idéia incutida pela "ideologia" (no caso os princípios) AA. Até porque conheço alguns anônimos que despertaram e se tornaram protagonistas de suas próprias vidas depois do "tratamento".

Mais um achismo pra colaborar com o tema rsrs

Oksana disse...

Gostei muito do texto e, embora minha opinião também não tenha muito embasamento (ou seja, achismo puro), também acredito que a melhor saída pra todo tipo de problema é assumir as rédeas, retomar o controle, mesmo que seja dando um passinho de cada vez, bem lentamente...