12 janeiro 2010

SÉRIE O BONEQUINHO VIU Nº 4

Eu achava que tudo que podia ser dito sobre a ditadura tinha se esgotado em Batismo de Sangue... Até assistir Tempos de Paz: ainda não tinha assistido nada do ponto de vista dos torturadores. 

O bonequinho aplaude de pé por 1 minuto inteirinho a giga interpretação de Dan Stulbach:



Percam os 10 minutinhos do vídeo. Vale muiiiiito a pena!

Segue íntegra do monólogo: (esse texto em espanhol deve ser de chorar muito no cantinho, hein tri?!)

Ai miserável de mim e infeliz!
Apurar, ó céus, pretendo,já que me tratais assim,
que delito cometi contra vós outros, nascendo?;
que, se nasci, já entendo qual delito hei cometido:
bastante causa há servido vossa justiça e rigor,
pois que o delito maior do homem é ter nascido!
E só quisera saber,para apurar males meus
deixando de parte, ó céus,o delito de nascer,
em que vos pude ofender por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram,
que privilégios tiveram
como eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças que lhe dão beleza suma,
apenas é flor de pluma, ou ramalhete com asas,
quando as etéreas plagas corta com velocidade,
negando-se à piedade do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma, tenho menos liberdade?
Nasce a fera, e com a pele que desenham manchas belas,
apenas signo é de estrelas graças ao douto pincel,
quando atrevida e cruel, a humana necessidade lhe ensina a ter crueldade,
monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto, tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira,aborto de ovas e lamas,
e apenas baixel de escamas por sobre as ondas se mira,
quando a toda a parte gira, num medir da imensidade
co'a tanta capacidade que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio,tenho menos liberdade?
Nasce o arroio, uma cobra que entre as flores se desata,
e apenas, serpe de prata, por entre as flores se desdobra,
já, cantor, celebra a obra da natura em piedade
que lhe dá a majestade do campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida, tenho menos liberdade?
Em chegando a esta paixão um vulcão, um Etna feito,
quisera arrancar do peito pedaços do coração.
Que lei, justiça, ou razão, nega aos homens - ó céu grave!
privilégio tão suave, exceção tão principal, que Deus a deu a um cristão, ao peixe, à fera, e a uma ave?

Monólogo de Segismundo - La Vida Es Sueño -
de Pedro Calderón de la Barca

(copy de Julio Diniz)

Um comentário:

katy disse...

não conheço o filme, mas fiquei interessada. adoro história, em especial os governos ditatoriais. bjs e uma excelente semana.