
... É um livro em que os heterônimos se escondem para que nos aproximemos de Fernando Pessoa, o outro que se multiplicava em identidades diferentes para se compreender, para decifrar o mundo e, também, provalmente para se ocultar...
Estive com essa preciosidade em mãos em BH, e por inexplicável surto de pãodurice não comprei. Devidamente refeita desse momento de fraqueza (rs) já estou com ele aki, mui bem instalado no meu puf, desbancado Jorge Amado e Nietzsche que chegaram primeiro.
Já nas 1ªs pags, para não dizer que desde as orelhinhas, identificação t-o-t-a-l:
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo...
... Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro...
... Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Não, não creio em mim. Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?...
O mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.*
* versos pinçados de "Tabaria"
É que eu tô sozinho há tanto tempo que eu me esqueci o que é verdade e o que é mentira em volta de mim!